Termodinâmica para processos da pirometalurgia – método progressivo
N.C Heck – NTCm / UFRGS 19
40
Processo adiabático e o
ciclo de Carnot
4.1 Processo adiabático
Um processo resulta adiabático quando a fronteira do sistema é flexível, porém,
adiabática – ou seja, é impermeável ao calor.
No processo adiabático, a determinação dos valores de P, V ou T do estado final do
sistema constituído por um gás ideal, a partir dos valores do estado inicial, não pode ser feita
com a equação de estado dos gases ideais. Para isso deve-se lançar mão da expressão:
γ
2
1
1
2 ⎟
⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
=
V
V
P
P , (4.1)
com
v
p
c
c
γ = .
Uma vez que o valor de P2 (ou, alternativamente, de V2) seja determinado, volta-se a
usar a equação de estado dos gases ideais para a determinação de T2 – a incógnita restante.
Derivação da equação (4.1)
Como, num processo adiabático, o valor de q é igual à zero,
dU P dV ext = − ⋅ . ;
ou,
C dT P dV v ext = − ⋅ . .
Substituindo-se nesta expressão aquela do valor de P dado pela equação de estado dos gases
ideais, fica:
dV
V
C dT nRT v = − .
Separando-se as variáveis e rearranjando,
dV
V
dT R
nT
Cv = −
e, integrando-se entre estados ‘1’ e ‘2’ (considera-se, aqui, o valor de Cv constante), obtém-se
(trocando-se, adicionalmente, ln(x) por log(x) e Cv/n por cv):
⎟ ⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
− = ⎟
⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
1
2
1
log 2 log
V
R V
T
c T v
ou
Termodinâmica para processos da pirometalurgia – método progressivo
N.C Heck – NTCm / UFRGS 20
⎟ ⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
= ⎟
⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
2
1
1
log 2 log
V
R V
T
c T v . (4.2)
Esta expressão mostra a temperatura que se estabelece no sistema submetido a uma
expansão ou contração (variação do volume) adiabática.
Para a determinação da temperatura como uma função da pressão – ao invés do
volume – é necessária uma pequena manipulação algébrica. Partindo-se da equação de estado
dos gases ideais, pode-se escrever:
1
2
2
1
2
1
P
P
T
T
V
V = ⋅
e, também,
⎟ ⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
+ ⎟
⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
= ⎟
⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
1
2
2
1
2
log 1 log log
P
P
T
T
V
V .
Substituindo-se esta expressão na equação (4.2), obtém-se:
⎟ ⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
+ ⎟
⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
= ⎟
⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
1
2
2
1
1
log 2 log log
P
P
T
T
T
T
R
cv
ou,
⎟ ⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
= ⎟
⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
⎟⎠
⎞
⎜⎝
⎛ +
1
2
1
1 log 2 log
P
P
T
T
R
cv .
Como, para um sistema unimolar de gases ideais,
c c R v p = − ,
então:
R
c
R
cv = p ⎟⎠
⎞
⎜⎝
⎛ +1
e
⎟ ⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
= ⎟
⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
1
2
1
log 2 log
P
R P
T
c T p . (4.3)
Esta expressão, da mesma forma que a (4.2), mostra a temperatura que se estabelece
com uma compressão ou expansão adiabática (variação da pressão) do sistema.
Dividindo-se a equação (4.3) pela (4.2), obtém-se a mais importante delas (na
descrição de um processo adiabático) – conforme se queria demonstrar:
γ
2
1
1
2 ⎟
⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
=
V
V
P
P ,
onde
v
p
c
c
γ = .
4.2 Máquinas térmicas, ciclo de Carnot e o rendimento
Uma máquina térmica é um dispositivo – contendo uma ‘substância termodinâmica’ –
ao qual se entrega uma quantidade de calor e se recebe em troca uma quantidade de trabalho.
Sadi Carnot preocupou-se em estudar o rendimento das máquinas térmicas. Para isso,
o primeiro passo foi idealizar os processos que a substância termodinâmica seria submetida
na máquina térmica.
Termodinâmica para processos da pirometalurgia – método progressivo
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Ele concluiu que o sistema, constituído por n mols de um gás ideal, numa máquina
térmica, seria submetido a um ciclo composto sucessivamente por: um processo isotérmico,
um processo adiabático, um segundo processo isotérmico e um último, adiabático – todos
reversíveis. Em sua homenagem, esse ciclo é, hoje, conhecido como ciclo de Carnot,
Figura 4.1.
Para a máquina térmica, o sentido dos processos do ciclo é: 1-2-3-4-1; no sentido
inverso tem-se um refrigerador.
Um refrigerador é um dispositivo ao qual se entrega uma quantidade de trabalho e se
recebe em troca de uma quantia de calor. Esse tipo de dispositivo só foi construído muitos
anos após as investigações a respeito das máquinas térmicas.
Fig. 4.1. Ciclo de Carnot e os quatro estados limítrofes entre os processos reversíveis (quando
eles ocorrem no sentido representado pelas setas tem-se uma máquina térmica)
Observa-se, experimentalmente, que entre os estados 3 e 4 o sistema absorve calor e
entre os sistemas 1 e 2 o sistema libera calor. Assim, é necessária a presença de uma fonte
quente, à temperatura T2, responsável pelo fornecimento dessa energia entre a vizinhança e o
sistema; por causa da temperatura ‘2’ esse calor será denominado q2. Para a extração de calor,
um dreno, à temperatura T1, deve estar presente; por similaridade, esse calor será denominado
q1.
O trabalho mecânico – ao contrário do calor – está envolvido nos quatro processos do
ciclo. Entre os estados 3-4-1 o trabalho é feito pelo sistema sobre a vizinhança. Exatamente o
oposto acontece entre os estados 1-2-3.
Ao fechar-se o ciclo, a variação de energia interna é igual a zero. Desta forma, o
somatório algébrico entre o calor fornecido e o liberado será igual ao trabalho líquido
fornecido pela máquina em troca do calor, Figura 4.2.
. 1 2 w q q líq = + (4.4)
Carnot definiu, então, o rendimento (ou eficiência) da máquina térmica, η, como:
2
.
calor fornecido
trabalho líquido
q
wη = = líq . (4.5)
Como se verá posteriormente, nenhuma máquina térmica terá eficiência maior que
aquela obtida operando nas condições do ciclo de Carnot.
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Uma importante equação relaciona o rendimento da máquina térmica com as
temperaturas das isotermas, e será deduzida a seguir.
O trabalho líquido no ciclo é igual ao somatório algébrico do trabalho nos quatro
processos.
Assim, entre os estados 3 e 4, tem-se
⎟ ⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
= −
3
4
3 4 2 ln
V
w nRT V ,
e, entre 1 e 2,
⎟ ⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
= −
1
2
1 2 1 ln
V
w nRT V .
Fig. 4.2. Ciclo de Carnot e o trabalho líquido (área hachurada)
Para os processos adiabáticos, não há troca de calor. Assim,
w = −ΔU .
Portanto, entre os estados 4 e 1, tem-se
= −Δ = − ∫ −
1
2
4 1
T
T vw U n c dT ,
e, entre os estados 2 e 3,
= −Δ = − ∫ −
2
1
2 3
T
T vw U n c dT .
Conforme mencionado, o trabalho líquido será igual a
. 1−2 2−3 3−4 4−1 w = w + w + w + w líq
∫ ∫ − ⎟
⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
+ − ⎟
⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝ ⎛ = 1
2
2
1 3
4
2
1
2
. 1 ln ln T
T v
T
líq T v n c dT
V
n c dT nRT V
V
w nRT V
Pode-se mostrar que, no ciclo de Carnot, a seguinte relação existe:
2
1
3
4
V
V
V
V = .
Substituindo-a na expressão do trabalho líquido e, considerando que o calor fornecido
à maquina térmica é igual a
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⎟ ⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
= = −
3
4
2 3 4 2 ln
V
q w nRT V ,
obtém-se, então, a seguinte expressão para o rendimento em função das isotermas:
2
2 1
2
.
T
T T
q
wlíq −
= . (4.6)
4.3 Ciclo de Carnot e a variação da entropia
Considerando-se as relações entre o trabalho e o calor envolvidos no ciclo de Carnot
(4.4) e a expressão do rendimento da máquina térmica dada pela relação entre as temperaturas
(4.6), a seguinte equação pode ser escrita:
2
2 1
2
2 1
T
T T
q
q q −
=
+
.
Manipulando-se os seus termos, tem-se
0
1
1
2
2 + =
T
q
T
q ,
ela pode ser expressa genericamente como:
Σ = 0 T
q .
É possível admitir – extrapolando-se essa idéia – que qualquer ciclo no plano P-V
pode ser decomposto numa sequência de pequenos processos isotérmicos e adiabáticos.
Assim, num caso extremo, para uma linha fechada qualquer sobre o plano, a seguinte
expressão será válida:
∫ = 0 T
q .
Estudando o trabalho de Carnot, Rudolf Clausius reconheceu, em 1850, que o valor
zero para o quociente entre o calor e a temperatura ao final de um ciclo estava expressando a
diferença de uma função de estado. Quinze anos mais tarde, o próprio Clausius deu à função o
nome de entropia (junção de palavras da língua grega que significam algo como ‘conteúdo
transformador’), S.
Assim, a variação da entropia, ΔS, resultante de um processo isotérmico reversível é
dada por:
T
ΔS = qrev.
e
T
dS qrev. δ
= .
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50
Processos
– uma resenha
5.1 Processo isobárico
Já foi visto que, no processo isobárico,
ΔH = q = ∫C dT p .
O trabalho mecânico – realizado com P externa constante – é igual à:
w P V ext const = Δ . . .
Assim,
U H P V ext const Δ = Δ − Δ . . .
Como o calor trocado é expresso por
q = ∫C dT p ,
então
Δ = ∫ dT
T
C
S p .
5.2 Processo isocórico
Foi visto, também, que, no processo isocórico,
w = 0 ;
portanto,
ΔU = q = ∫C dT v
e,
Δ = ∫ dT
T
S Cv .
5.3 Processo isotérmico
O processo isotérmico é dos mais importantes; sabe-se que:
T
ΔS = qrev. .
Como não há variação na temperatura1,
1 A temperatura é uma medida macroscópica da energia cinética das moléculas do gás (fenômeno
microscópico!). A energia cinética do gás permanece constante se a temperatura do gás não variar durante o
processo. Como a energia cinética é a única forma de energia que um sistema constituído por um gás ideal
pode conter, então, numa expansão isotérmica, não haverá mudanças na energia interna.
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ΔU = 0 ,
e, por conseqüência,
q w rev = . .1
Foi visto que o trabalho mecânico (para um sistema unimolar) é dado por:
⎟ ⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
=
1
ln 2
V
w RT V
– o que implica em:
⎟ ⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
Δ =
1
ln 2
V
S R V .
Sabe-se que a variação da entalpia é dada por:
ΔH = ΔU + Δ(PV) . (5.1)
Como
. 2 2 1 1 P V = P V = cte
– lei de Boyle-Mariotte –, então
Δ(PV) = 0 .
Assim, considerando-se os valores expostos, a expressão (5.1) reduz-se à expressão
ΔH = 0 .
5.4 Processo adiabático
No processo adiabático,
ΔU = −w ,
pois
q = 0 .
Por causa disso, também
ΔS = 0 .
O valor do trabalho (para um sistema unimolar) pode ser determinado por meio da
expressão:
( )
⎟ ⎟ ⎟
⎠
⎞
⎜ ⎜ ⎜
⎝
⎛
− ⎟
⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
⋅
−
=
−
1
γ 1
γ
γ 1
1
1 2
P
w RT P .
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60
Variação da energia de Gibbs
6.1 Definição da energia de Gibbs 1
A energia de Gibbs (uma função auxiliar) é definida como sendo:
G ≡ H − TS .
Assim, a variação da energia de Gibbs é igual à:
ΔG = ΔH − T ΔS . (6.1)
A energia de Gibbs e a sua relação com a variação da entropia do universo
A variação da energia de Gibbs de um sistema (isobárico) pode ser associada com a
variação da entropia do universo. Para demonstrar isso, deve-se primeiro observar que a
variação de entropia do universo é dada pela soma das variações da entropia da vizinhança e
do sistema:
U V S ΔS = ΔS + ΔS .
A variação da entropia da vizinhança é idêntica à quantidade de calor que entra ou sai
do sistema, porém com o sinal invertido. Tomando-se a temperatura do processo como sendo
aproximadamente constante, pode-se escrever:
T
S HS
V
Δ
Δ = − .
Assim,
S
S
U S
T
S H + Δ
Δ
Δ = − .
e
U S S − T ΔS = ΔH −T ΔS .
Portanto, da comparação com a equação (6.1), pode-se escrever:
S U ΔG = −T ΔS . (6.2)
6.2 Variação da energia de Gibbs em diferentes tipos de processos
Para um sistema constituído por um gás ideal, a determinação da variação da energia
de Gibbs sempre seguirá a equação (6.1). Note que, num processo isotérmico,
ΔH = 0 .
1 Conhecida anteriormente pelo nome ‘energia livre de Gibbs’; http://www.iupac.org/goldbook/G02629.pdf
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70
Valor das funções
termodinâmicas
7.1 Valor das funções termodinâmicas em função da temperatura
Já foi vista, nas seções anteriores, a determinação da variação de algumas
propriedades de estado entre os estados ‘final’ e o ‘inicial’ de algum processo. Num processo
isobárico, por exemplo, a variação da propriedade entropia é dada por
Δ = ∫ dT
T
C
S p .
Contudo, conforme comentado no início deste texto, para se poder responder questões
importantes, relacionadas com fenômenos naturais e com processos tecnológicos, dentre
outros fatores, é necessário o conhecimento do valor das propriedades da matéria – e não
somente de quanto foi a sua variação ao longo do processo!
O cálculo infinitesimal mostra que a determinação do valor de S do sistema no estado
‘2’ (P2, V2 e T2) é possível quando o seu valor no estado ‘1’ (P1, V1 e T1) é conhecido, pois,
matematicamente,
dT
T
C
S S S p Δ = − = ∫ 2
2 1 1 .
O valor da entropia à temperatura 0 [K] é considerado como sendo igual à zero1. Com
base nisto, aplicando-se o raciocínio apenas desenvolvido, pode-se determinar, por exemplo, o
valor de S para a temperatura de 500 [°C]. Na verdade, é usual tomar-se como referência o
valor de S à temperatura de 298,15 [K], sob pressão unitária (em [atm] ou [bar]) para então se
determinar a entropia à qualquer outra temperatura, T. Neste caso,
dT
T
C
S S o T p
T = + ∫
298 298 ; (7.1)
o superscrito ‘o’ refere-se à pressão do estado de referência – ou padrão.
Quando o mesmo raciocínio é utilizado para a entalpia, vê-se rapidamente que não há
sequer um único valor absoluto conhecido para esta propriedade! Isso indica a necessidade de
se usar valores artificiais de referência – um para cada substância. Por comodidade e
adequação, adota-se o valor zero para todas as ‘substâncias elementares’ (compostas apenas
por uma única espécie atômica2) à temperatura de 298,15 [K]. Para todos os outros
compostos, adota-se o valor da ‘variação da entalpia de formação’ à temperatura de 25 [°C] e
pressão unitária – tipicamente em atm ou bar. Uma vez esse cuidado tenha sido tomado,
pode-se determinar o valor da entalpia para qualquer outra temperatura, Figura 7.1:
1 Embora haja controvérsias, esta afirmação deriva da terceira lei da termodinâmica.
2 Esta afirmação – conforme se verá mais adiante – deve ser tomada como verdadeira apenas no âmbito
introdutório desta disciplina.
Termodinâmica para processos da pirometalurgia – método progressivo
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H H C dT T
p
o
T = Δ f + ∫
298 298 . (7.2)
Pela definição de G, vê-se que o valor da energia de Gibbs, em qualquer temperatura,
pode ser calculado a partir dos valores das funções H e S recém determinados1:
T T T G = H − TS .
Fig. 7.1. Entalpia de uma fase como uma função da temperatura, e seu valor a uma
temperatura de interesse, Ti
7.2 Valor das funções termodinâmicas em função da pressão
Algumas funções de estado mudam de valor para diferentes pressões no sistema –
mesmo que a temperatura seja mantida constante ao longo do processo.
Do estudo dos processos, sabe-se que o valor de U de um sistema composto por um
gás ideal, ao longo de uma isoterma, é finito e independente da pressão.
A partir desta afirmação, pode-se analisar a variação da função de estado entalpia em
função da pressão.
Assim, como
H =U + PV ,
e o produto PV (para uma isoterma) é constante (lei de Boyle-Mariotte), então o valor da
entalpia também será finito. Disso decorre que não haverá mudanças no valor de HT, qualquer
que seja a pressão do sistema.
Por outro lado, sabemos que o valor de S necessariamente se modifica ao longo de
uma isoterma. Isto está de acordo com a quantidade variável de calor trocado ao longo do
processo isotérmico, fato que modifica o valor de ΔS :
T
ΔS = qrev. .
Pode-se calcular o valor da entropia do sistema gasoso unimolar, sob uma pressão
qualquer, substituindo-se nessa expressão o valor de qrev. trocado entre o sistema e a
vizinhança. Uma vez que o valor ‘inicial’ da entropia, ST i, seja conhecido (à pressão P1),
pode-se calcular o seu valor ‘final’ (à pressão P2):
1 Estritamente, os valores de H, S e G, recém vistos, se referem unicamente à pressão unitária – escolhida para o
estado de referência.
Termodinâmica para processos da pirometalurgia – método progressivo
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⎟ ⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
= +
2
ln 1
P
S S R P T f T i .
A partir das observações das variações das propriedades de estado H e S feitas acima,
e, como
T T T G = H − TS ,
pode-se concluir que, para um sistema gasoso, mesmo num processo isotérmico, em que pese
a constância de HT, o valor de GT irá se modificar em função da pressão do sistema. Isso será
visto a seguir, por meio de uma análise que usa uma aproximação diferente para este tema.
7.3 Valor da energia de Gibbs dos gases ideais como uma função da pressão
Partindo-se das definições da entalpia e da energia de Gibbs, pode-se determinar o
valor da energia de Gibbs em função da pressão.
H ≡U + PV
assim,
dH = dU + P dV +V dP .
Como
dU =δ q − P dV
e
T
dS q δ
= ,
pode-se escrever:
dH = T dS +V dP .
A energia de Gibbs foi definida como sendo:
G ≡ H − TS
então,
dG = dH − T dS − S dT .
Substituindo-se nesta expressão o valor dH obtido acima, tem-se:
dG =V dP − S dT .
Para um sistema isotérmico,
dG =V dP .
Embora esta expressão esteja relacionada com uma variação da propriedade G, sua
integração também possibilita a determinação do valor da energia de Gibbs em função da
pressão. Para isso, é necessário, inicialmente, que o volume, V, seja expresso como uma
função de P. A expressão oriunda da equação de estado dos gases ideais, para um mol de gás,
é a alternativa mais freqüentemente usada. Uma vez aplicada, resultará em:
dP
P
dG = RT . (7.3)
Neste ponto, fica clara a necessidade de se conhecer o valor de G em um determinado
estado ou, alternativamente, que seja definido um estado padrão. A segunda opção – recém
utilizada no caso da entalpia – inclui igualmente uma pressão de referência, P°. A integração
da expressão (7.3), então, resulta em:
⎟⎠
⎞
⎜⎝
= + ⎛ o
o ln
P
G G RT P . (7.4)
O argumento da função logaritmo, o quociente
Po
a = P , (7.5)
Termodinâmica para processos da pirometalurgia – método progressivo
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recebe o nome de atividade 1. Como, normalmente, o valor escolhido para P° é unitário
(1 [atm] ou 1 [bar]), escreve-se usualmente apenas:
G = Go + RT ln(P) . (7.6)
O valor da energia de Gibbs dos gases ideais como uma função da temperatura e da
pressão pode ser visualizada na Figura 7.2 .
Fig. 7.2. Energia de Gibbs como uma função da temperatura e da pressão, e seu valor a uma
temperatura de interesse, Ti, e pressão de interesse Pi
7.4 Valor da energia de Gibbs dos gases reais em função da pressão
Quando o valor da pressão de um gás real não produz o efeito desejado, ela é
substituída por outra de valor mais adequado, chamada fugacidade (como esperado, f ° terá o
valor unitário):
G = Go + RT ln( f ) . (7.7)
Há, portanto, uma correspondência – normalmente não-linear – entre as fugacidades
(gases ideais) e as pressões (gases reais). Quando a relação é linear (lamentavelmente, isso é
raro), a inclinação da equação, chamada coeficiente de atividade, γ, é finito e, então,
f = γ ⋅ P .
Se o valor de γ for igual à unidade, por conveniência, pode-se falar apenas em ‘pressão’ –
como estava sendo feito até este momento – e os gases são apropriadamente denominados
‘ideais’.
Tendo-se em vista a relação entre a fugacidade e a pressão, a equação (7.6) pode ser
reescrita para os gases reais como
G = Go + RT ln(γ ⋅ P)
ou
1 Atividade é uma expressão comum a outros pontos da disciplina – conforme será visto adiante.
Termodinâmica para processos da pirometalurgia – método progressivo
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G = Go + RT ln(P)+ RT ln(γ) . (7.8)
Uma análise desta expressão mostra que três termos contribuem para o valor da
energia de Gibbs de um gás real.
Ao primeiro deles (à direita do sinal de igualdade) é usual a denominação
‘contribuição padrão’, ao segundo, ‘contribuição ideal’ e, ao terceiro, a denominação ‘termo
de excesso’. Esta lógica – digna de nota – voltará a ser empregada em tópicos que serão
abordados mais adiante.
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