Termodinâmica para processos da pirometalurgia – método progressivo
N.C Heck – NTCm / UFRGS 19
40
Processo adiabático e o
ciclo de Carnot
4.1 Processo adiabático
Um processo resulta adiabático quando a fronteira do sistema é flexível, porém,
adiabática – ou seja, é impermeável ao calor.
No processo adiabático, a determinação dos valores de P, V ou T do estado final do
sistema constituído por um gás ideal, a partir dos valores do estado inicial, não pode ser feita
com a equação de estado dos gases ideais. Para isso deve-se lançar mão da expressão:
γ
2
1
1
2 ⎟
⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
=
V
V
P
P , (4.1)
com
v
p
c
c
γ = .
Uma vez que o valor de P2 (ou, alternativamente, de V2) seja determinado, volta-se a
usar a equação de estado dos gases ideais para a determinação de T2 – a incógnita restante.
Derivação da equação (4.1)
Como, num processo adiabático, o valor de q é igual à zero,
dU P dV ext = − ⋅ . ;
ou,
C dT P dV v ext = − ⋅ . .
Substituindo-se nesta expressão aquela do valor de P dado pela equação de estado dos gases
ideais, fica:
dV
V
C dT nRT v = − .
Separando-se as variáveis e rearranjando,
dV
V
dT R
nT
Cv = −
e, integrando-se entre estados ‘1’ e ‘2’ (considera-se, aqui, o valor de Cv constante), obtém-se
(trocando-se, adicionalmente, ln(x) por log(x) e Cv/n por cv):
⎟ ⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
− = ⎟
⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
1
2
1
log 2 log
V
R V
T
c T v
ou
Termodinâmica para processos da pirometalurgia – método progressivo
N.C Heck – NTCm / UFRGS 20
⎟ ⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
= ⎟
⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
2
1
1
log 2 log
V
R V
T
c T v . (4.2)
Esta expressão mostra a temperatura que se estabelece no sistema submetido a uma
expansão ou contração (variação do volume) adiabática.
Para a determinação da temperatura como uma função da pressão – ao invés do
volume – é necessária uma pequena manipulação algébrica. Partindo-se da equação de estado
dos gases ideais, pode-se escrever:
1
2
2
1
2
1
P
P
T
T
V
V = ⋅
e, também,
⎟ ⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
+ ⎟
⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
= ⎟
⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
1
2
2
1
2
log 1 log log
P
P
T
T
V
V .
Substituindo-se esta expressão na equação (4.2), obtém-se:
⎟ ⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
+ ⎟
⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
= ⎟
⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
1
2
2
1
1
log 2 log log
P
P
T
T
T
T
R
cv
ou,
⎟ ⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
= ⎟
⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
⎟⎠
⎞
⎜⎝
⎛ +
1
2
1
1 log 2 log
P
P
T
T
R
cv .
Como, para um sistema unimolar de gases ideais,
c c R v p = − ,
então:
R
c
R
cv = p ⎟⎠
⎞
⎜⎝
⎛ +1
e
⎟ ⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
= ⎟
⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
1
2
1
log 2 log
P
R P
T
c T p . (4.3)
Esta expressão, da mesma forma que a (4.2), mostra a temperatura que se estabelece
com uma compressão ou expansão adiabática (variação da pressão) do sistema.
Dividindo-se a equação (4.3) pela (4.2), obtém-se a mais importante delas (na
descrição de um processo adiabático) – conforme se queria demonstrar:
γ
2
1
1
2 ⎟
⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
=
V
V
P
P ,
onde
v
p
c
c
γ = .
4.2 Máquinas térmicas, ciclo de Carnot e o rendimento
Uma máquina térmica é um dispositivo – contendo uma ‘substância termodinâmica’ –
ao qual se entrega uma quantidade de calor e se recebe em troca uma quantidade de trabalho.
Sadi Carnot preocupou-se em estudar o rendimento das máquinas térmicas. Para isso,
o primeiro passo foi idealizar os processos que a substância termodinâmica seria submetida
na máquina térmica.
Termodinâmica para processos da pirometalurgia – método progressivo
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Ele concluiu que o sistema, constituído por n mols de um gás ideal, numa máquina
térmica, seria submetido a um ciclo composto sucessivamente por: um processo isotérmico,
um processo adiabático, um segundo processo isotérmico e um último, adiabático – todos
reversíveis. Em sua homenagem, esse ciclo é, hoje, conhecido como ciclo de Carnot,
Figura 4.1.
Para a máquina térmica, o sentido dos processos do ciclo é: 1-2-3-4-1; no sentido
inverso tem-se um refrigerador.
Um refrigerador é um dispositivo ao qual se entrega uma quantidade de trabalho e se
recebe em troca de uma quantia de calor. Esse tipo de dispositivo só foi construído muitos
anos após as investigações a respeito das máquinas térmicas.
Fig. 4.1. Ciclo de Carnot e os quatro estados limítrofes entre os processos reversíveis (quando
eles ocorrem no sentido representado pelas setas tem-se uma máquina térmica)
Observa-se, experimentalmente, que entre os estados 3 e 4 o sistema absorve calor e
entre os sistemas 1 e 2 o sistema libera calor. Assim, é necessária a presença de uma fonte
quente, à temperatura T2, responsável pelo fornecimento dessa energia entre a vizinhança e o
sistema; por causa da temperatura ‘2’ esse calor será denominado q2. Para a extração de calor,
um dreno, à temperatura T1, deve estar presente; por similaridade, esse calor será denominado
q1.
O trabalho mecânico – ao contrário do calor – está envolvido nos quatro processos do
ciclo. Entre os estados 3-4-1 o trabalho é feito pelo sistema sobre a vizinhança. Exatamente o
oposto acontece entre os estados 1-2-3.
Ao fechar-se o ciclo, a variação de energia interna é igual a zero. Desta forma, o
somatório algébrico entre o calor fornecido e o liberado será igual ao trabalho líquido
fornecido pela máquina em troca do calor, Figura 4.2.
. 1 2 w q q líq = + (4.4)
Carnot definiu, então, o rendimento (ou eficiência) da máquina térmica, η, como:
2
.
calor fornecido
trabalho líquido
q
wη = = líq . (4.5)
Como se verá posteriormente, nenhuma máquina térmica terá eficiência maior que
aquela obtida operando nas condições do ciclo de Carnot.
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Uma importante equação relaciona o rendimento da máquina térmica com as
temperaturas das isotermas, e será deduzida a seguir.
O trabalho líquido no ciclo é igual ao somatório algébrico do trabalho nos quatro
processos.
Assim, entre os estados 3 e 4, tem-se
⎟ ⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
= −
3
4
3 4 2 ln
V
w nRT V ,
e, entre 1 e 2,
⎟ ⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
= −
1
2
1 2 1 ln
V
w nRT V .
Fig. 4.2. Ciclo de Carnot e o trabalho líquido (área hachurada)
Para os processos adiabáticos, não há troca de calor. Assim,
w = −ΔU .
Portanto, entre os estados 4 e 1, tem-se
= −Δ = − ∫ −
1
2
4 1
T
T vw U n c dT ,
e, entre os estados 2 e 3,
= −Δ = − ∫ −
2
1
2 3
T
T vw U n c dT .
Conforme mencionado, o trabalho líquido será igual a
. 1−2 2−3 3−4 4−1 w = w + w + w + w líq
∫ ∫ − ⎟
⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
+ − ⎟
⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝ ⎛ = 1
2
2
1 3
4
2
1
2
. 1 ln ln T
T v
T
líq T v n c dT
V
n c dT nRT V
V
w nRT V
Pode-se mostrar que, no ciclo de Carnot, a seguinte relação existe:
2
1
3
4
V
V
V
V = .
Substituindo-a na expressão do trabalho líquido e, considerando que o calor fornecido
à maquina térmica é igual a
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⎟ ⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
= = −
3
4
2 3 4 2 ln
V
q w nRT V ,
obtém-se, então, a seguinte expressão para o rendimento em função das isotermas:
2
2 1
2
.
T
T T
q
wlíq −
= . (4.6)
4.3 Ciclo de Carnot e a variação da entropia
Considerando-se as relações entre o trabalho e o calor envolvidos no ciclo de Carnot
(4.4) e a expressão do rendimento da máquina térmica dada pela relação entre as temperaturas
(4.6), a seguinte equação pode ser escrita:
2
2 1
2
2 1
T
T T
q
q q −
=
+
.
Manipulando-se os seus termos, tem-se
0
1
1
2
2 + =
T
q
T
q ,
ela pode ser expressa genericamente como:
Σ = 0 T
q .
É possível admitir – extrapolando-se essa idéia – que qualquer ciclo no plano P-V
pode ser decomposto numa sequência de pequenos processos isotérmicos e adiabáticos.
Assim, num caso extremo, para uma linha fechada qualquer sobre o plano, a seguinte
expressão será válida:
∫ = 0 T
q .
Estudando o trabalho de Carnot, Rudolf Clausius reconheceu, em 1850, que o valor
zero para o quociente entre o calor e a temperatura ao final de um ciclo estava expressando a
diferença de uma função de estado. Quinze anos mais tarde, o próprio Clausius deu à função o
nome de entropia (junção de palavras da língua grega que significam algo como ‘conteúdo
transformador’), S.
Assim, a variação da entropia, ΔS, resultante de um processo isotérmico reversível é
dada por:
T
ΔS = qrev.
e
T
dS qrev. δ
= .
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50
Processos
– uma resenha
5.1 Processo isobárico
Já foi visto que, no processo isobárico,
ΔH = q = ∫C dT p .
O trabalho mecânico – realizado com P externa constante – é igual à:
w P V ext const = Δ . . .
Assim,
U H P V ext const Δ = Δ − Δ . . .
Como o calor trocado é expresso por
q = ∫C dT p ,
então
Δ = ∫ dT
T
C
S p .
5.2 Processo isocórico
Foi visto, também, que, no processo isocórico,
w = 0 ;
portanto,
ΔU = q = ∫C dT v
e,
Δ = ∫ dT
T
S Cv .
5.3 Processo isotérmico
O processo isotérmico é dos mais importantes; sabe-se que:
T
ΔS = qrev. .
Como não há variação na temperatura1,
1 A temperatura é uma medida macroscópica da energia cinética das moléculas do gás (fenômeno
microscópico!). A energia cinética do gás permanece constante se a temperatura do gás não variar durante o
processo. Como a energia cinética é a única forma de energia que um sistema constituído por um gás ideal
pode conter, então, numa expansão isotérmica, não haverá mudanças na energia interna.
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ΔU = 0 ,
e, por conseqüência,
q w rev = . .1
Foi visto que o trabalho mecânico (para um sistema unimolar) é dado por:
⎟ ⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
=
1
ln 2
V
w RT V
– o que implica em:
⎟ ⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
Δ =
1
ln 2
V
S R V .
Sabe-se que a variação da entalpia é dada por:
ΔH = ΔU + Δ(PV) . (5.1)
Como
. 2 2 1 1 P V = P V = cte
– lei de Boyle-Mariotte –, então
Δ(PV) = 0 .
Assim, considerando-se os valores expostos, a expressão (5.1) reduz-se à expressão
ΔH = 0 .
5.4 Processo adiabático
No processo adiabático,
ΔU = −w ,
pois
q = 0 .
Por causa disso, também
ΔS = 0 .
O valor do trabalho (para um sistema unimolar) pode ser determinado por meio da
expressão:
( )
⎟ ⎟ ⎟
⎠
⎞
⎜ ⎜ ⎜
⎝
⎛
− ⎟
⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
⋅
−
=
−
1
γ 1
γ
γ 1
1
1 2
P
w RT P .
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60
Variação da energia de Gibbs
6.1 Definição da energia de Gibbs 1
A energia de Gibbs (uma função auxiliar) é definida como sendo:
G ≡ H − TS .
Assim, a variação da energia de Gibbs é igual à:
ΔG = ΔH − T ΔS . (6.1)
A energia de Gibbs e a sua relação com a variação da entropia do universo
A variação da energia de Gibbs de um sistema (isobárico) pode ser associada com a
variação da entropia do universo. Para demonstrar isso, deve-se primeiro observar que a
variação de entropia do universo é dada pela soma das variações da entropia da vizinhança e
do sistema:
U V S ΔS = ΔS + ΔS .
A variação da entropia da vizinhança é idêntica à quantidade de calor que entra ou sai
do sistema, porém com o sinal invertido. Tomando-se a temperatura do processo como sendo
aproximadamente constante, pode-se escrever:
T
S HS
V
Δ
Δ = − .
Assim,
S
S
U S
T
S H + Δ
Δ
Δ = − .
e
U S S − T ΔS = ΔH −T ΔS .
Portanto, da comparação com a equação (6.1), pode-se escrever:
S U ΔG = −T ΔS . (6.2)
6.2 Variação da energia de Gibbs em diferentes tipos de processos
Para um sistema constituído por um gás ideal, a determinação da variação da energia
de Gibbs sempre seguirá a equação (6.1). Note que, num processo isotérmico,
ΔH = 0 .
1 Conhecida anteriormente pelo nome ‘energia livre de Gibbs’; http://www.iupac.org/goldbook/G02629.pdf
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70
Valor das funções
termodinâmicas
7.1 Valor das funções termodinâmicas em função da temperatura
Já foi vista, nas seções anteriores, a determinação da variação de algumas
propriedades de estado entre os estados ‘final’ e o ‘inicial’ de algum processo. Num processo
isobárico, por exemplo, a variação da propriedade entropia é dada por
Δ = ∫ dT
T
C
S p .
Contudo, conforme comentado no início deste texto, para se poder responder questões
importantes, relacionadas com fenômenos naturais e com processos tecnológicos, dentre
outros fatores, é necessário o conhecimento do valor das propriedades da matéria – e não
somente de quanto foi a sua variação ao longo do processo!
O cálculo infinitesimal mostra que a determinação do valor de S do sistema no estado
‘2’ (P2, V2 e T2) é possível quando o seu valor no estado ‘1’ (P1, V1 e T1) é conhecido, pois,
matematicamente,
dT
T
C
S S S p Δ = − = ∫ 2
2 1 1 .
O valor da entropia à temperatura 0 [K] é considerado como sendo igual à zero1. Com
base nisto, aplicando-se o raciocínio apenas desenvolvido, pode-se determinar, por exemplo, o
valor de S para a temperatura de 500 [°C]. Na verdade, é usual tomar-se como referência o
valor de S à temperatura de 298,15 [K], sob pressão unitária (em [atm] ou [bar]) para então se
determinar a entropia à qualquer outra temperatura, T. Neste caso,
dT
T
C
S S o T p
T = + ∫
298 298 ; (7.1)
o superscrito ‘o’ refere-se à pressão do estado de referência – ou padrão.
Quando o mesmo raciocínio é utilizado para a entalpia, vê-se rapidamente que não há
sequer um único valor absoluto conhecido para esta propriedade! Isso indica a necessidade de
se usar valores artificiais de referência – um para cada substância. Por comodidade e
adequação, adota-se o valor zero para todas as ‘substâncias elementares’ (compostas apenas
por uma única espécie atômica2) à temperatura de 298,15 [K]. Para todos os outros
compostos, adota-se o valor da ‘variação da entalpia de formação’ à temperatura de 25 [°C] e
pressão unitária – tipicamente em atm ou bar. Uma vez esse cuidado tenha sido tomado,
pode-se determinar o valor da entalpia para qualquer outra temperatura, Figura 7.1:
1 Embora haja controvérsias, esta afirmação deriva da terceira lei da termodinâmica.
2 Esta afirmação – conforme se verá mais adiante – deve ser tomada como verdadeira apenas no âmbito
introdutório desta disciplina.
Termodinâmica para processos da pirometalurgia – método progressivo
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H H C dT T
p
o
T = Δ f + ∫
298 298 . (7.2)
Pela definição de G, vê-se que o valor da energia de Gibbs, em qualquer temperatura,
pode ser calculado a partir dos valores das funções H e S recém determinados1:
T T T G = H − TS .
Fig. 7.1. Entalpia de uma fase como uma função da temperatura, e seu valor a uma
temperatura de interesse, Ti
7.2 Valor das funções termodinâmicas em função da pressão
Algumas funções de estado mudam de valor para diferentes pressões no sistema –
mesmo que a temperatura seja mantida constante ao longo do processo.
Do estudo dos processos, sabe-se que o valor de U de um sistema composto por um
gás ideal, ao longo de uma isoterma, é finito e independente da pressão.
A partir desta afirmação, pode-se analisar a variação da função de estado entalpia em
função da pressão.
Assim, como
H =U + PV ,
e o produto PV (para uma isoterma) é constante (lei de Boyle-Mariotte), então o valor da
entalpia também será finito. Disso decorre que não haverá mudanças no valor de HT, qualquer
que seja a pressão do sistema.
Por outro lado, sabemos que o valor de S necessariamente se modifica ao longo de
uma isoterma. Isto está de acordo com a quantidade variável de calor trocado ao longo do
processo isotérmico, fato que modifica o valor de ΔS :
T
ΔS = qrev. .
Pode-se calcular o valor da entropia do sistema gasoso unimolar, sob uma pressão
qualquer, substituindo-se nessa expressão o valor de qrev. trocado entre o sistema e a
vizinhança. Uma vez que o valor ‘inicial’ da entropia, ST i, seja conhecido (à pressão P1),
pode-se calcular o seu valor ‘final’ (à pressão P2):
1 Estritamente, os valores de H, S e G, recém vistos, se referem unicamente à pressão unitária – escolhida para o
estado de referência.
Termodinâmica para processos da pirometalurgia – método progressivo
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⎟ ⎟⎠
⎞
⎜ ⎜⎝
⎛
= +
2
ln 1
P
S S R P T f T i .
A partir das observações das variações das propriedades de estado H e S feitas acima,
e, como
T T T G = H − TS ,
pode-se concluir que, para um sistema gasoso, mesmo num processo isotérmico, em que pese
a constância de HT, o valor de GT irá se modificar em função da pressão do sistema. Isso será
visto a seguir, por meio de uma análise que usa uma aproximação diferente para este tema.
7.3 Valor da energia de Gibbs dos gases ideais como uma função da pressão
Partindo-se das definições da entalpia e da energia de Gibbs, pode-se determinar o
valor da energia de Gibbs em função da pressão.
H ≡U + PV
assim,
dH = dU + P dV +V dP .
Como
dU =δ q − P dV
e
T
dS q δ
= ,
pode-se escrever:
dH = T dS +V dP .
A energia de Gibbs foi definida como sendo:
G ≡ H − TS
então,
dG = dH − T dS − S dT .
Substituindo-se nesta expressão o valor dH obtido acima, tem-se:
dG =V dP − S dT .
Para um sistema isotérmico,
dG =V dP .
Embora esta expressão esteja relacionada com uma variação da propriedade G, sua
integração também possibilita a determinação do valor da energia de Gibbs em função da
pressão. Para isso, é necessário, inicialmente, que o volume, V, seja expresso como uma
função de P. A expressão oriunda da equação de estado dos gases ideais, para um mol de gás,
é a alternativa mais freqüentemente usada. Uma vez aplicada, resultará em:
dP
P
dG = RT . (7.3)
Neste ponto, fica clara a necessidade de se conhecer o valor de G em um determinado
estado ou, alternativamente, que seja definido um estado padrão. A segunda opção – recém
utilizada no caso da entalpia – inclui igualmente uma pressão de referência, P°. A integração
da expressão (7.3), então, resulta em:
⎟⎠
⎞
⎜⎝
= + ⎛ o
o ln
P
G G RT P . (7.4)
O argumento da função logaritmo, o quociente
Po
a = P , (7.5)
Termodinâmica para processos da pirometalurgia – método progressivo
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recebe o nome de atividade 1. Como, normalmente, o valor escolhido para P° é unitário
(1 [atm] ou 1 [bar]), escreve-se usualmente apenas:
G = Go + RT ln(P) . (7.6)
O valor da energia de Gibbs dos gases ideais como uma função da temperatura e da
pressão pode ser visualizada na Figura 7.2 .
Fig. 7.2. Energia de Gibbs como uma função da temperatura e da pressão, e seu valor a uma
temperatura de interesse, Ti, e pressão de interesse Pi
7.4 Valor da energia de Gibbs dos gases reais em função da pressão
Quando o valor da pressão de um gás real não produz o efeito desejado, ela é
substituída por outra de valor mais adequado, chamada fugacidade (como esperado, f ° terá o
valor unitário):
G = Go + RT ln( f ) . (7.7)
Há, portanto, uma correspondência – normalmente não-linear – entre as fugacidades
(gases ideais) e as pressões (gases reais). Quando a relação é linear (lamentavelmente, isso é
raro), a inclinação da equação, chamada coeficiente de atividade, γ, é finito e, então,
f = γ ⋅ P .
Se o valor de γ for igual à unidade, por conveniência, pode-se falar apenas em ‘pressão’ –
como estava sendo feito até este momento – e os gases são apropriadamente denominados
‘ideais’.
Tendo-se em vista a relação entre a fugacidade e a pressão, a equação (7.6) pode ser
reescrita para os gases reais como
G = Go + RT ln(γ ⋅ P)
ou
1 Atividade é uma expressão comum a outros pontos da disciplina – conforme será visto adiante.
Termodinâmica para processos da pirometalurgia – método progressivo
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G = Go + RT ln(P)+ RT ln(γ) . (7.8)
Uma análise desta expressão mostra que três termos contribuem para o valor da
energia de Gibbs de um gás real.
Ao primeiro deles (à direita do sinal de igualdade) é usual a denominação
‘contribuição padrão’, ao segundo, ‘contribuição ideal’ e, ao terceiro, a denominação ‘termo
de excesso’. Esta lógica – digna de nota – voltará a ser empregada em tópicos que serão
abordados mais adiante.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Termodinâmica
A descoberta de meios para utilização de fontes de energia diferentes da que os animais forneciam foi o que determinou a possibilidade da revolução industrial. A energia pode se apresentar na natureza sob diversas formas, mas, exceto no caso da energia hidráulica e dos ventos, deve ser transformada em trabalho mecânico por meio de máquinas, para ser utilizada pelo homem. A termodinâmica nasceu justamente dessa necessidade, e foi o estudo de máquinas térmicas que desenvolveu seus princípios básicos.
Termodinâmica é o ramo da física que estuda as relações entre calor, temperatura, trabalho e energia. Abrange o comportamento geral dos sistemas físicos em condições de equilíbrio ou próximas dele. Qualquer sistema físico, seja ele capaz ou não de trocar energia e matéria com o ambiente, tenderá a atingir um estado de equilíbrio, que pode ser descrito pela especificação de suas propriedades, como pressão, temperatura ou composição química. Se as limitações externas são alteradas (por exemplo, se o sistema passa a poder se expandir), então essas propriedades se modificam. A termodinâmica tenta descrever matematicamente essas mudanças e prever as condições de equilíbrio do sistema.
Conceitos básicos da Termodinâmica
No estudo da termodinâmica, é necessário definir com precisão alguns conceitos básicos, como sistema, fase, estado e transformação. Sistema é qualquer parte limitada do universo passível de observação e manipulação. Em contraposição, tudo o que não pertence ao sistema é denominado exterior e é dele separado por suas fronteiras. A caracterização de um estado do sistema é feita por reconhecimento de suas propriedades termodinâmicas. Chama-se fase qualquer porção homogênea de um sistema. O estado depende da natureza do sistema e, para ser descrito, necessita de grandezas que o representem o mais completamente possível. Denomina-se transformação toda e qualquer mudança de estado. Quando formada por uma sucessão de estados de equilíbrio, a transformação é dita reversível.
No estudo da termodinâmica, consideram-se alguns tipos particulares de transformações. A transformação isotérmica é a que se processa sob temperatura constante, enquanto a isobárica é aquela durante a qual não há variação de pressão do sistema. A transformação isométrica se caracteriza pela constância do volume do sistema, a adiabática pela ausência de trocas térmicas com o exterior e a politrópica pela constância do quociente entre a quantidade de calor trocado com o meio externo e a variação de temperatura. Conhecem-se ainda mais dois tipos de transformação -- a isentálpica e a isentrópica -- nas quais se observa a constância de outras propriedades termodinâmicas, respectivamente a entalpia (soma da energia interna com o produto da pressão pelo volume do sistema) e a entropia (função associada à organização espacial e energética das partículas de um sistema).
Existem muitas grandezas físicas mensuráveis que variam quando a temperatura do corpo se altera. Em princípio, essas grandezas podem ser utilizadas como indicadoras de temperatura dos corpos. Entre elas citam-se o volume de um líquido, a resistência elétrica de um fio e o volume de um gás mantido a pressão constante.
A equação de estado de uma substância sólida, líquida ou gasosa é uma relação entre grandezas como a pressão (p), a temperatura (t), a densidade (s) e o volume (v). Sabe-se, experimentalmente, que existem relações entre essas grandezas: em princípio, é possível obter uma função do tipo f (p, t, s, v) = 0. Nos casos mais gerais, essas funções são bastante complicadas. Uma forma de estudar as substâncias é representar graficamente a variação de uma grandeza com outra escolhida, estando todas as demais fixas.
Para gases a baixa densidade, podem-se obter equações de estado simples. Nesse caso, observa-se um comportamento geral, que é expresso pela relação:
PV = nRT
em que P é a pressão do gás, V o volume por ele ocupado, T a temperatura, n o número de moles do gás e R uma constante igual a 8,3149 J/kg.mol.K. Para gases de densidades mais elevadas, o modelo do gás ideal (ou perfeito) não é válido. Existem então outras equações de estado, empíricas ou deduzidas de princípios mais fundamentais, como a de van der Waals:
p+ _a_ (v – b) = Rt
v²
em que a e b são constantes a serem ajustadas para cada gás e v o volume específico molar v = V/n.
Leis da termodinâmicaAs principais definições de grandezas termodinâmicas constam de suas leis: a lei zero é a que define a temperatura; a primeira lei (calor, trabalho mecânico e energia interna) é a do princípio da conservação da energia; a segunda lei define entropia e fornece regras para conversão de energia térmica em trabalho mecânico e a terceira lei aponta limitações para a obtenção do zero absoluto de temperatura.
Lei zeroEmbora a noção de quente e frio pelo contato com a pele seja de uso corrente, ela pode levar a avaliações erradas de temperatura. De qualquer forma, é da observação cotidiana dos corpos quentes e frios que se chega ao conceito de temperatura. Levando em conta essas observações, assim postulou-se a lei zero: se A e B são dois corpos em equilíbrio térmico com um terceiro corpo C, então A e B estão em equilíbrio térmico um com o outro, ou seja, a temperatura desses sistemas é a mesma.
Primeira leiA lei de conservação de energia aplicada aos processos térmicos é conhecida como primeira lei da termodinâmica. Ela dá a equivalência entre calor e trabalho e pode enunciar-se da seguinte maneira: "em todo sistema quimicamente isolado em que há troca de trabalho e calor com o meio externo e em que, durante essa transformação, realiza-se um ciclo (o estado inicial do sistema é igual a seu estado final), as quantidades de calor (Q) e trabalho (W) trocadas são iguais. Assim, chega-se à expressão W = JQ, em que J é uma constante que corresponde ao ajuste entre as unidades de calor (usada na medida de Q) e Joule (usada na medida de W). Essa constante é empregada na própria definição de caloria (1 cal = 4,1868J).
A primeira lei da termodinâmica pode ser enunciada também a partir do conceito de energia interna, entendida como a energia associada aos átomos e moléculas em seus movimentos e interações internas ao sistema. Essa energia não envolve outras energias cinéticas e potenciais, que o sistema como um todo apresenta em suas relações com o exterior.
A variação da energia interna DU é medida pela diferença entre a quantidade de calor (Q), trocado pelo sistema com seu exterior, e o trabalho realizado (W) e é dada pela expressão DU = K - W , que corresponde ao enunciado da lei da termodinâmica. É comum no estudo das transformações o uso da função termodinâmica da entalpia (H), definida pela relação H = U + pV, em que U é a energia interna, p é a pressão e V é o volume do sistema. Num processo em que só existe trabalho de expansão (como, por exemplo, na fusão sob pressão e temperatura constante), a entalpia é a medida do calor trocado entre o sistema e seu exterior.
A relação entre a variação DQ e o aumento correspondente de temperatura Dt , no limite, quando Dt tende a zero, é chamada capacidade calorífica do sistema:
C = DQ/Dt
O calor específico é igual à capacidade calorífica dividida pela massa do sistema:
C = 1 D Q / m D t
Tanto o calor específico quanto a capacidade calorífica do sistema dependem das condições pelas quais foi absorvido ou retirado calor do sistema.
Segunda leiA tendência do calor a passar de um corpo mais quente para um mais frio, e nunca no sentido oposto, a menos que exteriormente comandado, é enunciada pela segunda lei da termodinâmica. Essa lei nega a existência do fenômeno espontâneo de transformação de energia térmica em energia cinética, que permitiria converter a energia do meio aquecido para a execução de um movimento (por exemplo, mover um barco com a energia resultante da conversão da água em gelo).
De acordo com essa lei da termodinâmica, num sistema fechado, a entropia nunca diminui. Isso significa que, se o sistema está inicialmente num estado de baixa entropia (organizado), tenderá espontaneamente a um estado de entropia máxima (desordem). Por exemplo, se dois blocos de metal a diferentes temperaturas são postos em contato térmico, a desigual distribuição de temperatura rapidamente dá lugar a um estado de temperatura uniforme à medida que a energia flui do bloco mais quente para o mais frio. Ao atingir esse estado, o sistema está em equilíbrio.
A entropia, que pode ser entendida como decorrente da desordem interna do sistema, é definida por meio de processos estatísticos relacionados com a probabilidade de as partículas terem determinadas características ao constituírem um sistema num dado estado. Assim, por exemplo, as moléculas e átomos que compõem 1kg de gelo, a 0o C e 1atm, apresentam características individuais distintas, mas do ponto de vista estatístico apresentam, no conjunto, características que definem a possibilidade da existência da pedra de gelo nesse estado.
A variação da função entropia pode ser determinada pela relação entre a quantidade de calor trocada e a temperatura absoluta do sistema. Assim, por exemplo, a fusão de 1kg de gelo, nas condições de 273K e 1atm, utiliza 80.000cal, o que representa um aumento de entropia do sistema, devido à fusão, em 293J/K.
A aplicação do segundo princípio a sistemas de extensões universais esbarra em dificuldades conceituais relativas à condição de seu isolamento. Entretanto, pode-se cogitar de regiões do universo tão grandes quanto se queira, isoladas das restantes. Para elas (e para as regiões complementares) valeria a lei do crescimento da entropia. Pode-se então perguntar por que motivo o universo não atingiu ainda a situação de máxima entropia, ou se atingirá essa condição um dia.
A situação de máxima entropia corresponde à chamada morte térmica do universo: toda a matéria estaria distribuída na vastidão espacial, ocupando uniformemente os estados possíveis da energia. A temperatura seria constante em toda parte e nenhuma forma de organização, das mais elementares às superiores, seria possível.
Terceira lei
O conceito de temperatura entra na termodinâmica como uma quantidade matemática precisa que relaciona calor e entropia. A interação entre essas três quantidades é descrita pela terceira lei da termodinâmica, segundo a qual é impossível reduzir qualquer sistema à temperatura do zero absoluto mediante um número finito de operações. De acordo com esse princípio, também conhecido como teorema de Nernst, a entropia de todos os corpos tende a zero quando a temperatura tende ao zero absoluto.
Termodinâmica estatísticaAs leis da termodinâmica são obtidas experimentalmente, mas podem ser deduzidas a partir de princípios mais fundamentais, por meio da mecânica estatística, desenvolvida sobretudo por Josiah Willard Gibbs e Ludwig Boltzmann. O propósito fundamental da termodinâmica estatística é o de interpretar grandezas macroscópicas, como temperatura, energia interna e pressão, em termos das grandezas dinâmicas, e reescrever os princípios da termodinâmica em termos das leis gerais que as afetam.
A energia interna, U, é por si uma grandeza mecânica e dispensa interpretações adicionais. A análise se concentra, portanto, nas interpretações mecânicas da temperatura e da entropia. Os fundamentos da termodinâmica estatística foram estabelecidos a partir de meados do século XIX por Rudolf Julius Emanuel Clausius, James Clerk Maxwell e Ludwig Boltzmann. A interpretação mecânica da temperatura deve muito aos trabalhos dos dois primeiros cientistas sobre o comportamento dos gases. Maxwell demonstrou que a temperatura T de um gás ideal em equilíbrio está relacionada com a energia cinética média de suas moléculas (E) por E = 3/2 k.T, em que k é a constante de Boltzmann.
Seus trabalhos foram posteriormente desenvolvidos por Boltzmann e levaram a uma generalização importante desse resultado, conhecida como equipartição da energia: o valor médio da energia de um sistema cujo movimento microscópico tem s graus de liberdade (números de coordenadas de posição e de impulso que determinam as energias de translação, vibração e rotação de uma molécula), em equilíbrio termodinâmico à temperatura T, distribui-se igualmente entre os diferentes graus de liberdade, de tal modo que cada um contribui com k.T/2 para a energia total. Assim, para s graus de liberdade,E = s/2 k.T. Para gases monoatômicos, o movimento de cada molécula tem apenas três graus de liberdade de translação. Para gases diatômicos, além da translação, haverá vibrações e rotações, num total de seis graus de liberdade.
A falha na previsão do valor correto para o calor específico a volume constante de gases diatômicos (e também de sólidos cristalinos monoatômicos) foi o primeiro exemplo histórico da inadequação dos conceitos e métodos da mecânica clássica para o tratamento dos movimentos microscópicos. Essa e outras contradições com a formulação teórica da equipartição da energia de Maxwell-Boltzmann vieram a ser elucidadas posteriormente, à luz dos argumentos da mecânica quântica.
HistóriaA temperatura é provavelmente o primeiro conceito termodinâmico. No final do século XVI, Galileu Galilei inventou um termômetro rudimentar, o termoscópio, ao qual se seguiram outros inventos com a mesma finalidade. O objetivo desses instrumentos era medir uma quantidade até então indefinida, mais objetiva na natureza do que as sensações fisiológicas de calor e frio. Na época, acreditava-se que a temperatura fosse uma potência motriz que provoca a transmissão de um certo eflúvio de um corpo quente para outro mais frio. Mas não se sabia explicar ainda o que era transmitido entre os corpos.
Francis Bacon, em 1620, e a Academia Florentina, alguns anos depois, começaram a fazer a distinção entre essa emanação e a temperatura. Somente em 1770, porém, o químico Joseph Black, da Universidade de Glasglow, diferenciou-as de maneira clara. Misturando massas iguais de líquidos a diferentes temperaturas, ele mostrou que a variação de temperatura em cada uma das substâncias misturadas não é igual em termos quantitativos.
Black fundou a ciência da calorimetria, que levou à enunciação da teoria segundo a qual o calor é um fluido invisível chamado calórico. Um objeto se aquecia quando recebia calórico e se esfriava quando o perdia. A primeira evidência de que essa substância não existia foi dada, no final do século XVIII, pelo conde Rumford (Benjamin Thompson). Demonstrou-se, posteriormente, que o que se troca entre corpos de temperaturas diferentes é a energia cinética de seus átomos e moléculas, energia também conhecida como térmica.
Em 1824, Sadi Carnot, um engenheiro militar francês, tornou-se o primeiro pesquisador a preocupar-se com as características básicas das máquinas térmicas e a estudar o problema de seu rendimento. A contribuição de Carnot à solução do problema, embora teórica, foi de importância fundamental, pois demonstrou as características realmente significativas do funcionamento das máquinas térmicas, ou seja: (1) que a máquina recebe de uma fonte qualquer certa quantidade de calor a temperatura elevada; (2) que ela executa um trabalho externo; e (3) que rejeita calor a temperatura mais baixa do que a correspondente ao calor recebido.
Apesar de fundamentar suas teorias na noção de que o calor é um fluido imponderável, o calórico, Carnot encontrou a expressão correta do rendimento máximo que se pode obter com uma máquina térmica qualquer, operando entre duas fontes de temperaturas diferentes. Na década de 1840, James Prescott Joule assentou as bases da primeira lei da termodinâmica ao mostrar que a quantidade de trabalho necessária para promover uma determinada mudança de estado é independente do tipo de trabalho (mecânico, elétrico, magnético etc.) realizado, do ritmo e do método empregado.
Joule concluiu que o trabalho pode ser convertido em calor e vice-versa. Em 1844, Julius Robert von Mayer deduziu a lei de equivalência do calor e do trabalho, segundo a qual, num ciclo produtor de trabalho, o calor introduzido deve exceder o calor rejeitado em uma quantidade proporcional ao trabalho e calculou o valor da constante de proporcionalidade.
Em 1849, Lord Kelvin (William Thomson), engenheiro de Glasgow, mostrou o conflito existente entre a base calórica dos argumentos de Carnot e as conclusões obtidas por Joule. No ano seguinte, Rudolf Julius Emanuel Clausius solucionou o problema ao enunciar a primeira e a segunda leis da termodinâmica. Alguns anos depois, Clausius definiu a função da entropia, que se conserva em todas as transformações reversíveis, e deduziu da segunda lei da termodinâmica o princípio do aumento da entropia.
A publicação dos estudos de Clausius em 1850 marca o nascimento da ciência termodinâmica. De 1873 a 1878, Josiah Gibbs criou um método matemático que serviu como base para a fundação da termodinâmica química e para diversas aplicações da termodinâmica clássica. No início do século XX, Henri Poincaré elaborou as equações matemáticas das leis de Clausius, e Constantin Carathéodory apresentou uma estrutura lógica alternativa das teorias termodinâmicas que evitava o termo calor, considerado obsoleto. Em 1918, o Prêmio Nobel Walther Nernst, enunciou o princípio de Nernst, que coincide essencialmente com a terceira lei da termodinâmica.
Autoria: Carlos José da Silva Costa
Termodinâmica é o ramo da física que estuda as relações entre calor, temperatura, trabalho e energia. Abrange o comportamento geral dos sistemas físicos em condições de equilíbrio ou próximas dele. Qualquer sistema físico, seja ele capaz ou não de trocar energia e matéria com o ambiente, tenderá a atingir um estado de equilíbrio, que pode ser descrito pela especificação de suas propriedades, como pressão, temperatura ou composição química. Se as limitações externas são alteradas (por exemplo, se o sistema passa a poder se expandir), então essas propriedades se modificam. A termodinâmica tenta descrever matematicamente essas mudanças e prever as condições de equilíbrio do sistema.
Conceitos básicos da Termodinâmica
No estudo da termodinâmica, é necessário definir com precisão alguns conceitos básicos, como sistema, fase, estado e transformação. Sistema é qualquer parte limitada do universo passível de observação e manipulação. Em contraposição, tudo o que não pertence ao sistema é denominado exterior e é dele separado por suas fronteiras. A caracterização de um estado do sistema é feita por reconhecimento de suas propriedades termodinâmicas. Chama-se fase qualquer porção homogênea de um sistema. O estado depende da natureza do sistema e, para ser descrito, necessita de grandezas que o representem o mais completamente possível. Denomina-se transformação toda e qualquer mudança de estado. Quando formada por uma sucessão de estados de equilíbrio, a transformação é dita reversível.
No estudo da termodinâmica, consideram-se alguns tipos particulares de transformações. A transformação isotérmica é a que se processa sob temperatura constante, enquanto a isobárica é aquela durante a qual não há variação de pressão do sistema. A transformação isométrica se caracteriza pela constância do volume do sistema, a adiabática pela ausência de trocas térmicas com o exterior e a politrópica pela constância do quociente entre a quantidade de calor trocado com o meio externo e a variação de temperatura. Conhecem-se ainda mais dois tipos de transformação -- a isentálpica e a isentrópica -- nas quais se observa a constância de outras propriedades termodinâmicas, respectivamente a entalpia (soma da energia interna com o produto da pressão pelo volume do sistema) e a entropia (função associada à organização espacial e energética das partículas de um sistema).
Existem muitas grandezas físicas mensuráveis que variam quando a temperatura do corpo se altera. Em princípio, essas grandezas podem ser utilizadas como indicadoras de temperatura dos corpos. Entre elas citam-se o volume de um líquido, a resistência elétrica de um fio e o volume de um gás mantido a pressão constante.
A equação de estado de uma substância sólida, líquida ou gasosa é uma relação entre grandezas como a pressão (p), a temperatura (t), a densidade (s) e o volume (v). Sabe-se, experimentalmente, que existem relações entre essas grandezas: em princípio, é possível obter uma função do tipo f (p, t, s, v) = 0. Nos casos mais gerais, essas funções são bastante complicadas. Uma forma de estudar as substâncias é representar graficamente a variação de uma grandeza com outra escolhida, estando todas as demais fixas.
Para gases a baixa densidade, podem-se obter equações de estado simples. Nesse caso, observa-se um comportamento geral, que é expresso pela relação:
PV = nRT
em que P é a pressão do gás, V o volume por ele ocupado, T a temperatura, n o número de moles do gás e R uma constante igual a 8,3149 J/kg.mol.K. Para gases de densidades mais elevadas, o modelo do gás ideal (ou perfeito) não é válido. Existem então outras equações de estado, empíricas ou deduzidas de princípios mais fundamentais, como a de van der Waals:
p+ _a_ (v – b) = Rt
v²
em que a e b são constantes a serem ajustadas para cada gás e v o volume específico molar v = V/n.
Leis da termodinâmicaAs principais definições de grandezas termodinâmicas constam de suas leis: a lei zero é a que define a temperatura; a primeira lei (calor, trabalho mecânico e energia interna) é a do princípio da conservação da energia; a segunda lei define entropia e fornece regras para conversão de energia térmica em trabalho mecânico e a terceira lei aponta limitações para a obtenção do zero absoluto de temperatura.
Lei zeroEmbora a noção de quente e frio pelo contato com a pele seja de uso corrente, ela pode levar a avaliações erradas de temperatura. De qualquer forma, é da observação cotidiana dos corpos quentes e frios que se chega ao conceito de temperatura. Levando em conta essas observações, assim postulou-se a lei zero: se A e B são dois corpos em equilíbrio térmico com um terceiro corpo C, então A e B estão em equilíbrio térmico um com o outro, ou seja, a temperatura desses sistemas é a mesma.
Primeira leiA lei de conservação de energia aplicada aos processos térmicos é conhecida como primeira lei da termodinâmica. Ela dá a equivalência entre calor e trabalho e pode enunciar-se da seguinte maneira: "em todo sistema quimicamente isolado em que há troca de trabalho e calor com o meio externo e em que, durante essa transformação, realiza-se um ciclo (o estado inicial do sistema é igual a seu estado final), as quantidades de calor (Q) e trabalho (W) trocadas são iguais. Assim, chega-se à expressão W = JQ, em que J é uma constante que corresponde ao ajuste entre as unidades de calor (usada na medida de Q) e Joule (usada na medida de W). Essa constante é empregada na própria definição de caloria (1 cal = 4,1868J).
A primeira lei da termodinâmica pode ser enunciada também a partir do conceito de energia interna, entendida como a energia associada aos átomos e moléculas em seus movimentos e interações internas ao sistema. Essa energia não envolve outras energias cinéticas e potenciais, que o sistema como um todo apresenta em suas relações com o exterior.
A variação da energia interna DU é medida pela diferença entre a quantidade de calor (Q), trocado pelo sistema com seu exterior, e o trabalho realizado (W) e é dada pela expressão DU = K - W , que corresponde ao enunciado da lei da termodinâmica. É comum no estudo das transformações o uso da função termodinâmica da entalpia (H), definida pela relação H = U + pV, em que U é a energia interna, p é a pressão e V é o volume do sistema. Num processo em que só existe trabalho de expansão (como, por exemplo, na fusão sob pressão e temperatura constante), a entalpia é a medida do calor trocado entre o sistema e seu exterior.
A relação entre a variação DQ e o aumento correspondente de temperatura Dt , no limite, quando Dt tende a zero, é chamada capacidade calorífica do sistema:
C = DQ/Dt
O calor específico é igual à capacidade calorífica dividida pela massa do sistema:
C = 1 D Q / m D t
Tanto o calor específico quanto a capacidade calorífica do sistema dependem das condições pelas quais foi absorvido ou retirado calor do sistema.
Segunda leiA tendência do calor a passar de um corpo mais quente para um mais frio, e nunca no sentido oposto, a menos que exteriormente comandado, é enunciada pela segunda lei da termodinâmica. Essa lei nega a existência do fenômeno espontâneo de transformação de energia térmica em energia cinética, que permitiria converter a energia do meio aquecido para a execução de um movimento (por exemplo, mover um barco com a energia resultante da conversão da água em gelo).
De acordo com essa lei da termodinâmica, num sistema fechado, a entropia nunca diminui. Isso significa que, se o sistema está inicialmente num estado de baixa entropia (organizado), tenderá espontaneamente a um estado de entropia máxima (desordem). Por exemplo, se dois blocos de metal a diferentes temperaturas são postos em contato térmico, a desigual distribuição de temperatura rapidamente dá lugar a um estado de temperatura uniforme à medida que a energia flui do bloco mais quente para o mais frio. Ao atingir esse estado, o sistema está em equilíbrio.
A entropia, que pode ser entendida como decorrente da desordem interna do sistema, é definida por meio de processos estatísticos relacionados com a probabilidade de as partículas terem determinadas características ao constituírem um sistema num dado estado. Assim, por exemplo, as moléculas e átomos que compõem 1kg de gelo, a 0o C e 1atm, apresentam características individuais distintas, mas do ponto de vista estatístico apresentam, no conjunto, características que definem a possibilidade da existência da pedra de gelo nesse estado.
A variação da função entropia pode ser determinada pela relação entre a quantidade de calor trocada e a temperatura absoluta do sistema. Assim, por exemplo, a fusão de 1kg de gelo, nas condições de 273K e 1atm, utiliza 80.000cal, o que representa um aumento de entropia do sistema, devido à fusão, em 293J/K.
A aplicação do segundo princípio a sistemas de extensões universais esbarra em dificuldades conceituais relativas à condição de seu isolamento. Entretanto, pode-se cogitar de regiões do universo tão grandes quanto se queira, isoladas das restantes. Para elas (e para as regiões complementares) valeria a lei do crescimento da entropia. Pode-se então perguntar por que motivo o universo não atingiu ainda a situação de máxima entropia, ou se atingirá essa condição um dia.
A situação de máxima entropia corresponde à chamada morte térmica do universo: toda a matéria estaria distribuída na vastidão espacial, ocupando uniformemente os estados possíveis da energia. A temperatura seria constante em toda parte e nenhuma forma de organização, das mais elementares às superiores, seria possível.
Terceira lei
O conceito de temperatura entra na termodinâmica como uma quantidade matemática precisa que relaciona calor e entropia. A interação entre essas três quantidades é descrita pela terceira lei da termodinâmica, segundo a qual é impossível reduzir qualquer sistema à temperatura do zero absoluto mediante um número finito de operações. De acordo com esse princípio, também conhecido como teorema de Nernst, a entropia de todos os corpos tende a zero quando a temperatura tende ao zero absoluto.
Termodinâmica estatísticaAs leis da termodinâmica são obtidas experimentalmente, mas podem ser deduzidas a partir de princípios mais fundamentais, por meio da mecânica estatística, desenvolvida sobretudo por Josiah Willard Gibbs e Ludwig Boltzmann. O propósito fundamental da termodinâmica estatística é o de interpretar grandezas macroscópicas, como temperatura, energia interna e pressão, em termos das grandezas dinâmicas, e reescrever os princípios da termodinâmica em termos das leis gerais que as afetam.
A energia interna, U, é por si uma grandeza mecânica e dispensa interpretações adicionais. A análise se concentra, portanto, nas interpretações mecânicas da temperatura e da entropia. Os fundamentos da termodinâmica estatística foram estabelecidos a partir de meados do século XIX por Rudolf Julius Emanuel Clausius, James Clerk Maxwell e Ludwig Boltzmann. A interpretação mecânica da temperatura deve muito aos trabalhos dos dois primeiros cientistas sobre o comportamento dos gases. Maxwell demonstrou que a temperatura T de um gás ideal em equilíbrio está relacionada com a energia cinética média de suas moléculas (E) por E = 3/2 k.T, em que k é a constante de Boltzmann.
Seus trabalhos foram posteriormente desenvolvidos por Boltzmann e levaram a uma generalização importante desse resultado, conhecida como equipartição da energia: o valor médio da energia de um sistema cujo movimento microscópico tem s graus de liberdade (números de coordenadas de posição e de impulso que determinam as energias de translação, vibração e rotação de uma molécula), em equilíbrio termodinâmico à temperatura T, distribui-se igualmente entre os diferentes graus de liberdade, de tal modo que cada um contribui com k.T/2 para a energia total. Assim, para s graus de liberdade,E = s/2 k.T. Para gases monoatômicos, o movimento de cada molécula tem apenas três graus de liberdade de translação. Para gases diatômicos, além da translação, haverá vibrações e rotações, num total de seis graus de liberdade.
A falha na previsão do valor correto para o calor específico a volume constante de gases diatômicos (e também de sólidos cristalinos monoatômicos) foi o primeiro exemplo histórico da inadequação dos conceitos e métodos da mecânica clássica para o tratamento dos movimentos microscópicos. Essa e outras contradições com a formulação teórica da equipartição da energia de Maxwell-Boltzmann vieram a ser elucidadas posteriormente, à luz dos argumentos da mecânica quântica.
HistóriaA temperatura é provavelmente o primeiro conceito termodinâmico. No final do século XVI, Galileu Galilei inventou um termômetro rudimentar, o termoscópio, ao qual se seguiram outros inventos com a mesma finalidade. O objetivo desses instrumentos era medir uma quantidade até então indefinida, mais objetiva na natureza do que as sensações fisiológicas de calor e frio. Na época, acreditava-se que a temperatura fosse uma potência motriz que provoca a transmissão de um certo eflúvio de um corpo quente para outro mais frio. Mas não se sabia explicar ainda o que era transmitido entre os corpos.
Francis Bacon, em 1620, e a Academia Florentina, alguns anos depois, começaram a fazer a distinção entre essa emanação e a temperatura. Somente em 1770, porém, o químico Joseph Black, da Universidade de Glasglow, diferenciou-as de maneira clara. Misturando massas iguais de líquidos a diferentes temperaturas, ele mostrou que a variação de temperatura em cada uma das substâncias misturadas não é igual em termos quantitativos.
Black fundou a ciência da calorimetria, que levou à enunciação da teoria segundo a qual o calor é um fluido invisível chamado calórico. Um objeto se aquecia quando recebia calórico e se esfriava quando o perdia. A primeira evidência de que essa substância não existia foi dada, no final do século XVIII, pelo conde Rumford (Benjamin Thompson). Demonstrou-se, posteriormente, que o que se troca entre corpos de temperaturas diferentes é a energia cinética de seus átomos e moléculas, energia também conhecida como térmica.
Em 1824, Sadi Carnot, um engenheiro militar francês, tornou-se o primeiro pesquisador a preocupar-se com as características básicas das máquinas térmicas e a estudar o problema de seu rendimento. A contribuição de Carnot à solução do problema, embora teórica, foi de importância fundamental, pois demonstrou as características realmente significativas do funcionamento das máquinas térmicas, ou seja: (1) que a máquina recebe de uma fonte qualquer certa quantidade de calor a temperatura elevada; (2) que ela executa um trabalho externo; e (3) que rejeita calor a temperatura mais baixa do que a correspondente ao calor recebido.
Apesar de fundamentar suas teorias na noção de que o calor é um fluido imponderável, o calórico, Carnot encontrou a expressão correta do rendimento máximo que se pode obter com uma máquina térmica qualquer, operando entre duas fontes de temperaturas diferentes. Na década de 1840, James Prescott Joule assentou as bases da primeira lei da termodinâmica ao mostrar que a quantidade de trabalho necessária para promover uma determinada mudança de estado é independente do tipo de trabalho (mecânico, elétrico, magnético etc.) realizado, do ritmo e do método empregado.
Joule concluiu que o trabalho pode ser convertido em calor e vice-versa. Em 1844, Julius Robert von Mayer deduziu a lei de equivalência do calor e do trabalho, segundo a qual, num ciclo produtor de trabalho, o calor introduzido deve exceder o calor rejeitado em uma quantidade proporcional ao trabalho e calculou o valor da constante de proporcionalidade.
Em 1849, Lord Kelvin (William Thomson), engenheiro de Glasgow, mostrou o conflito existente entre a base calórica dos argumentos de Carnot e as conclusões obtidas por Joule. No ano seguinte, Rudolf Julius Emanuel Clausius solucionou o problema ao enunciar a primeira e a segunda leis da termodinâmica. Alguns anos depois, Clausius definiu a função da entropia, que se conserva em todas as transformações reversíveis, e deduziu da segunda lei da termodinâmica o princípio do aumento da entropia.
A publicação dos estudos de Clausius em 1850 marca o nascimento da ciência termodinâmica. De 1873 a 1878, Josiah Gibbs criou um método matemático que serviu como base para a fundação da termodinâmica química e para diversas aplicações da termodinâmica clássica. No início do século XX, Henri Poincaré elaborou as equações matemáticas das leis de Clausius, e Constantin Carathéodory apresentou uma estrutura lógica alternativa das teorias termodinâmicas que evitava o termo calor, considerado obsoleto. Em 1918, o Prêmio Nobel Walther Nernst, enunciou o princípio de Nernst, que coincide essencialmente com a terceira lei da termodinâmica.
Autoria: Carlos José da Silva Costa
sábado, 28 de agosto de 2010
Produção de vapor
Vapor de água é usado como meio de geração, transporte e utilização
de energia desde os primórdios do desenvolvimento industrial. Inúmeras
razões colaboraram para a geração de energia através do vapor. A água é o
composto mais abundante da Terra e portanto de fácil obtenção e baixo
custo. Na forma de vapor tem alto conteúdo de energia por unidade de
massa e volume. As relações temperatura e pressão de saturação permitem
utilização como fonte de calor a temperaturas médias e de larga
utilização industrial com pressões de trabalho perfeitamente toleráveis
pela tecnologia disponível, já há muito tempo.
Grande parte da geração de energia elétrica do hemisfério norte
utiliza vapor de água como fluído de trabalho em ciclos termodinâmicos,
transformando a energia química de combustíveis fósseis ou nucleares em
energia mecânica, e em seguida, energia elétrica.
Toda indústria de processo químico tem vapor como principal fonte
de aquecimento: reatores químicos, trocadores de calor, evaporadores,
secadores e inúmeros processos e equipamentos térmicos. Mesmo outros
setores industriais, como metalúrgico, metal-mecânico, eletrônica, etc.,
podem-se utilizar de vapor como fonte de aquecimentos de diversos
processos.
Vapor saturado tem a grande vantagem de manter temperatura
constante durante a condensação a pressão constante. A pressão de
condensação do vapor saturado controla indiretamente a temperatura dos
processos. O controle de pressão, por ser um controle mecânico de ação
direta é conseguido muito mais fàcilmente que o controle direto de
temperatura.
A faixa de temperaturas até 170 ºC utiliza vapor saturado até 10
kgf/cm2 , cuja temperatura de saturação é 183 ºC. Nesta faixa está a
grande maioria de pequenos e médios consumidores de vapor. Maiores
temperaturas são possíveis a custa do aumento da pressão de saturação, o
que implica num maior custo de investimento devido a necessidade de
aumento da resistência mecânica e requisitos de fabricação e inspeção do
gerador de vapor. O limite da temperatura de vapor saturado é o ponto
crítico, a 374 ºC e 218 atmosferas. Não é vantajoso utilizar-se vapor
superaquecido para processos de aquecimento a temperaturas mais altas, já
que perderíamos a facilidade de controle de temperatura e diminuiríamos
drasticamente a disponibilidade de energia por unidade de massa ou volume
de vapor. Vapor superaquecido é utilizado e produzido para geração de
energia elétrica ou mecânica em ciclos termodinâmicos, e neste caso a
limitação de temperaturas de trabalho fica por conta dos materiais de
construção empregados. Em utilização industrial, poderíamos arbitrar uma
classificação de geradores de vapor em relação a pressão de trabalho:
- baixa pressão: até 10 kgf/cm2
- média pressão: de 11 a 40 kgf/cm2
- alta pressão: maior que 40 kgf/cm2
Repetindo que esta classificação é arbitrária, porém representativa
da faixa de utilização de vapor na indústria. Grandes caldeiras, as
quais são utilizadas tanto para geração própria de energia elétrica
quanto para processos de aquecimento, estão limitadas a pressões da ordem
de 100 kgf/cm2 . Existem caldeiras de maiores pressões, mas utilizadas
EM 722 - Geração, Distribuição e Utilização de Vapor Profº Waldir A. Bizzo
67
somente em grandes centrais termoelétricas ou grandes complexos
industriais, representando um número muito reduzido de unidades, em
comparação com as milhares de pequenas caldeiras em operação.
2 - Desenvolvimento das Caldeiras
As primeiras aplicações práticas
ou de caráter industrial de vapor
surgiram por volta do século 17. O
inglês Thomas Savery patenteou em 1698
um sistema de bombeamento de água
utilizando vapor como força motriz. Em
1711, Newcomen desenvolveu outro
equipamento com a mesma finalidade,
aproveitando idéias de Denis Papin, um
inventor francês. A caldeira de
Newcomen era apenas um reservatório
esférico, com aquecimento direto no
fundo, também conhecida como caldeira
de Haycock (figura 1).
James Watt modificou um pouco o
formato em 1769, desenhando a caldeira
Vagão ( figura 2), a precursora das
caldeiras utilizadas em locomotivas a
vapor. Apesar do grande
desenvolvimento que Watt trouxe a
utilização do vapor como força motriz,
não acrescentou muito ao projeto de
caldeiras.
Todos estes modelos provocaram
desastrosas explosões, devido a
utilização de fogo direto e ao grande
acúmulo de vapor no recipiente. A
ruptura do vaso causava grande
liberação de energia na forma de
expansão do vapor contido.
Nos finais do século 18 e início
do século 19 houveram os primeiros
desenvolvimentos da caldeira com tubos
de água. O modelo de John Stevens
(figura 3) movimentou um barco a vapor
no Rio Hudson. Stephen Wilcox, em
1856, projetou um gerador de vapor com
tubos inclinados, e da associação com
George Babcock tais caldeiras passaram
a ser produzidas, com grande sucesso
comercial (figura 4).
Em 1880, Alan Stirling
desenvolveu uma caldeira de tubos
curvados, cuja concepção básica é
ainda hoje utilizada nas grandes caldeiras de tubos de água (figura 5).
Figura 1 - Caldeira de
Haycock, 1720
Figura 2 - Caldeira Vagão,
de James Watt, 1769
EM 722 - Geração, Distribuição e Utilização de Vapor Profº Waldir A. Bizzo
68
Nesta época, tais
caldeiras já estavam
sendo utilizadas para
geração de energia
elétrica. A partir do
início deste século o
desenvolvimento técnico
dos geradores de vapor
se deu principalmente no
aumento das pressões e
temperaturas de
trabalho, e no
rendimento térmico, com
utilização dos mais
diversos combustíveis.
A aplicação a propulsão
marítima alavancou o desenvolvimento de equipamentos mais compactos e
eficientes.
3 - Tipos de Caldeiras
Atualmente, podemos
classificar as caldeiras em
dois tipos básicos:
- flamotubulares, onde
os gases de combustão
circulam por dentro de
tubos, vaporizando a água
que fica por fora dos
mesmos e
- aquatubulares, onde
os gases circulam por fora
dos tubos, e a vaporização
da água se dá dentro dos
mesmos.
3.1. Caldeiras flamotubulares:
Constituem-se da grande
maioria das caldeiras, utilizada
para pequenas capacidades de
produção de vapor ( da ordem de até
10 ton/h) e baixas pressões (até 10
bar), chegando algumas vezes a 15
ou 20 bar.
As caldeiras flamotubulares
horizontais constituem-se de um
vaso de pressão cilíndrico
horizontal, com dois tampos planos
(os espelhos) onde estão afixados
os tubos e a fornalha. Caldeiras
modernas tem diversos passes de
Figura 4 - Caldeira de tubos retos,Babcock
e Wilcox, 1877.
Figura 5 - Caldeira de tubos
curvados, Stirling, 1880.
Figura 3 - Caldeira de tubos de
água, 1803.
EM 722 - Geração, Distribuição e Utilização de Vapor Profº Waldir A. Bizzo
69
gases, sendo mais comum uma fornalha e dois passes de gases (figura .6).
A saída da fornalha é chamada câmara de reversão e pode ser revestida
completamente de refratários ou constituída de paredes metálicas
molhadas.
Câmara de reversão molhada produz melhores rendimentos térmicos
pela diminuição de perdas de calor ao ambiente, porém são mais
complicadas construtivamente e consequentemente mais caras.
As fornalhas das caldeiras flamotubulares devem ser dimensionadas
para que a combustão ocorra completamente no seu interior, para não haver
reversão de chama que vá atingir diretamente os espelhos, diminuindo a
vida útil da caldeira. A fornalha também se constitui de um corpo
cilíndrico e está completamente imersa em água. Pela sua própria
concepção, caldeiras flamotubulares modernas só queimam combustíveis
Figura 6 - Tipos de caldeiras flamotubulares
EM 722 - Geração, Distribuição e Utilização de Vapor Profº Waldir A. Bizzo
70
líquidos ou gasosos, devido a dificuldade de se instalar grelhas para
combustíveis sólidos. Algumas caldeiras flamotubulares de pequena
capacidade queimam combustíveis sólidos através de adaptação de grelhas
na fornalha, porém são limitadas ao tamanho necessário da área de grelha.
Para queima de combustíveis sólidos em caldeiras de pequena capacidade
utiliza-se as caldeiras mistas, que serão tratadas mais adiante.
Desde as primeiras caldeiras do século 17, até os modelos atuais,
as caldeiras flamotubulares passaram por sucessivos desenvolvimentos até
a atual concepção de uma fornalha e mais dois passes de gases de
combustão. A grande aceitação deste tipo para pequenas capacidades está
associada principalmente no seu baixo custo de construção, em comparação
com uma aquatubular de mesma capacidade. Por outro lado, o grande volume
de água que acondiciona limita, por questões de segurança, as pressões de
trabalho e a qualidade do vapor na condição de vapor saturado. A figura
7 mostra uma caldeira flamotubular moderna, com câmara de reversão
molhada e fornalha corrugada.
A água acumulada no corpo da caldeira pode funcionar como um pulmão
de vapor, respondendo a súbitas flutuações de demanda com pouca queda de
pressão da rede de vapor, sendo adequada portanto para aplicações onde o
consumo é variável.
A eficiência térmica destas caldeiras está na faixa de 80 a 90%,
sendo dificil se atingir maiores valores pela dificuldade de se
acrescentar equipamentos adicionais de recuperação de calor.
Figura 7 - Caldeira flamotubular com câmara de reversão
molhada e fornalha corrugada.
EM 722 - Geração, Distribuição e Utilização de Vapor Profº Waldir A. Bizzo
71
3.2 - Caldeiras aquatubulares:
As caldeiras aquatubulares tem a produção de vapor dentro de tubos
que interligam 2 ou mais reservatórios cilíndricos horizontais, conforme
figura 8:
- o tubulão superior, onde se dá a separação da fase líquida e
do vapor, e
- o tubulão inferior, onde é feita a decantação e purga dos
sólidos em suspensão.
Os tubos podem ser retos ou curvados. As primeiras caldeiras
aquatubulares utilizavam tubos retos, solução hoje completamente
abandonada, apesar de algumas vantagens, como a facilidade de limpeza
interna dos tubos.
A caldeira de tubos curvados, interligando os balões, proporcionam
arranjo e projeto de câmaras de combustão completamente fechada por
paredes de água, com capacidades praticamente ilimitadas. Dada a maior
complexidade construtiva em relação às caldeiras flamotubulares, as
aquatubulares são preferidas somente para maiores capacidades de produção
de vapor e pressão, exatamente onde o custo de fabricação do outro tipo
começa a aumentar desproporcionadamente.
Em relação ao modo de transferência de calor no interior de
caldeira existem normalmente duas secções:
- a secção de radiação, onde a troca de calor se dá por
radiaçãodireta da chama aos tubos de água, os quais geralmentedelimitam a
câmara de combustão.
- a secção de
convecção, onde a troca de
calor se dá por convecção
forçada, dos gases quentes
que sairam da câmara de
combustão atravessando um
banco de tubos de água.
Nao há limite físico
para capacidades.
Encontram-se hoje
caldeiras que produzem até
750 t/h de vapor com
pressões até 3450 atm.
Figura 8 - Esquemas construtivos de
caldeiras aquatubulares, com circulação
natural.
EM 722 - Geração, Distribuição e Utilização de Vapor Profº Waldir A. Bizzo
72
Figura 9 - Caldeira aquatubular compacta
Figura 10 - Caldeira aquatubular de grande porte.
EM 722 - Geração, Distribuição e Utilização de Vapor Profº Waldir A. Bizzo
73
Para aplicação industrial, as capacidades variam da ordem de 15 a
150 t/h, com pressões até 90-100 bar.
As figuras 9 e 10 mostram uma caldeira aquatubular compacta e uma
caldeira de alta produção de vapor.
Circulação da água
A água pode circular por convecção natural pelos tubos, devido a
diferença de densidade entre o líquido e vapor formado pelo aquecimento
conforme esquematizado na figura 11. A figura 12 mostra um gráfico que
nos fornece a relação entre os pesos específicos do líquido e vapor
saturado em função da pressão de saturação. A força motriz da circulação
de água é exatamente a diferença de pêso específico.
Caldeiras de pressão
próxima ao ponto crítico
(218 atm), ou maior,
necessitam de circulação
assistida , devido a
pouca diferença entre as
densidades de líquido e
vapor. Um esquema da
circulação de caldeira
deste tipo esta mostrado
na figura 13.
Câmara de combustão.
As paredes de água
da câmara de combustão
podem ser totalmente
integrais, ou seja, cada
tubo tangente ao próximo
formando uma parede
impermeável aos gases, ou
ainda podem ser
construídas com tubos
interligados por aletas
de chapa soldadas. Há
ainda paredes de água com
tubos espaçados e parede
refratária. O calor que
não atinge diretamente os
tubos é reirradiado pelo
revestimento refratário
(figura 14).
Figura 11 - Esquema da circulação natural
da água da caldeira.
Figura 12 - Relação entre os pesos
específicos da água líquida e vapor saturado,
em função da pressão de saturação
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74
3.3 - Caldeiras mistas
A necessidade de utilização de combustíveis sólidos para caldeiras
de pequena capacidade fez surgir uma solução híbrida que são as caldeiras
mistas. Basicamente são caldeiras flamotubulares com uma antecâmara de
combustão com paredes revestidas de tubos de água. Na antecâmara se dá a
combustão de sólidos através
de grelhas de diversos tipos
possibilitando assim o espaço
necessário para os maiores
volumes da câmara de
combustão necessários a
combustão de sólidos,
principalmente em grandes
tamanhos, tais como lenha em
toras, cavacos, etc, além da
possibilidade de retirada de
cinzas por baixo das grelhas
(o cinzeiro). As caldeiras
mistas não reumem todas as
vantagens da aquatubular,
como a segurança, maior
eficiência térmica, etc.,
porém, é uma solução prática
e eficiente quando se tem
disponibilidade de
combustível sólido a baixo
custo. Tem ainda a
possibilidade de queimar
combustível líquido ou
gasoso, com a instalação de
queimadores apropriados.
O rendimento térmico destas caldeiras são menores que as
flamotubulares, devido a perda de calor pela antecâmara. Dificilmente as
paredes frontais e traseira são revestidas de tubos, devido a dificuldade
construtiva pelo pequeno tamanho da caldeira (figura 15).
Figura 15 - Caldeira flamotubular com ante-fornalha
de paredes de água.
Figura 14 - Tipos de paredes de água
para fornalhas de caldeiras
aquatubulares.
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75
3.4 - Caldeiras de recuperação de calor
Alguns processos de fabricação geram gases de processo ou de
combustão com temperatura alta o suficiente para se recuperar calor
destes. Como exemplo, gases de alto forno ou gases de processos de
fabricação de amônia,
ou produtos de
combustão de
incineradores e fornos
de alta temperatura
(figura 16). Neste
caso, a caldeira pode
ser tanto aquatubular
como flamotubular,
valendo ainda a
escolha pela
capacidade de produção
de vapor, optando-se
pela aquatubular para
maiores capacidades.
4 - Componentes principais de caldeiras
Caldeiras flamotubulares são geralmente equipamentos montados em
base única e poucos acessórios além dos necessários são acrescentados.
Grandes geradores de vapor podem possuir mais componentes além dos
que já foram citados.
Os principais componentes são: (figura 17)
a) cinzeiro: em caldeiras de combustíveis sólidos, é o local onde
se depositam as cinzas ou pequenos pedaços de combustível não queimado.
b) fornalha com grelha ou queimadores de óleo ou gás.
c) seção de irradiação: são as paredes da câmara de combustão
revestidas internamente por tubos de água.
d) seção de convecção: feixe de tubos de água, recebendo calor por
convecção forçada; pode ter um ou mais passagens de gases.
e) superaquecedor: trocador de calor que aquecendo o vapor saturado
transforma-o em vapor superaquecido.
f) economizador: trocador de calor que através do calor sensivel
dos gases de combustão saindo da caldeira aquecem a água de alimentação.
g) pré-aquecedor de ar: trocador de calor que aquece o ar de
combustão também trocando calor com os gases de exaustão da caldeira.
h) exaustor: faz a exaustão dos gases de combustão, fornecendo
energia para vencer as perdas de carga devido a circulação dos gases.
i) chaminé: lança os gases de combustão ao meio ambiente,
geralmente a uma altura suficiente para dispersão dos mesmos.
Figura 16 - Caldeira de recuperação de calor de
gases de processo
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76
A caldeira pode ainda ter equipamentos de limpeza dos gases, tais
como filtros, ciclones ou precipitadores eletrostáticos para captação de
material particulado ou ainda lavadores de gases para captação de gases
ácidos: SOx,NOx, etc...
4.1 - Superaquecedores:
Vapor saturado é extraído do tubulão superior e entra em um
trocador de calor instalado dentro da própria caldeira. Os
superaquecedores podem ser de natureza apenas convectiva, ou seja, recebe
calor somente por convecção térmica, ou de irradiação, e neste caso,
estão localizados dentro da própria câmara de combustão, ou na saída
desta, de maneira que receba calor por radiação da chama ou da grelha. A
temperatura de superaquecimento varia com a carga da caldeira, já que a
troca de calor não é acompanhada de mudança de fase como na vaporização.
A troca de calor dentro do superaquecedor é função da velocidade do vapor
dentro dos tubos e da velocidade dos gases na zona de convecção. A
figura 17 mostra o comportamento da temperatura de superaquecimento do
vapor conforme a carga da caldeira e o tipo de trocador. Equipamentos de
convecção aumentam a temperatura de superaquecimento com o aumento da
carga da caldeira, pois os coeficientes de troca de calor tendem a
aumentar com as maiores velocidades dos gases e também do vapor dentro
dos tubos. Superaquecedores de irradiação tem a temperatura de saída
diminuida com o aumento da produção de vapor. A irradiação de calor
varia pouco com a carga de produção de vapor . Em baixa carga a
velocidade do vapor é mais baixa e consequentemente os coeficientes de
transferência de calor também.
Para manter a temperatura de saída do superaquecedor constante,
projetaram-se unidades mistas com secções de radiação e convecção.
Figura 16 - Componentes principais de um
gerador de vapor.
EM 722 - Geração, Distribuição e Utilização de Vapor Profº Waldir A. Bizzo
77
O controle fino da temperatura de superaquecimento pode ser feito
de diversas maneiras:
- contrôle da taxa de
radiação, através do contrôle da
posição angular dos queimadores de
óleo ou gás, direcionando a chama
radiante ao superaquecedor, ou
contrôle da capacidade de
combustão dos queimadores mais
próximos ao superaquecedor.
- desvio de gases passando
pelo superaquecedor, através de
uma válvula de desvio regulavel
automáticamente.
- utilização de
dessuperaquecedor (ou
atemperador), na saída do
superquecedor, o qual através da
injeção direta de água líquida
controla a temperatura de saída do
vapor superaquecido. Neste caso o superquecedor tem que ser
projetado para temperatura de saída maior que o necessário, a fim
de permitir margem de contrôle. A temperatura de saída do
atemperador é então controlada pela vazão de água injetada. Um
esquema do atemperador é mostrado na figura 18.
O atemperador é atualmente o método mais utilizado, pois
proporciona ótimo contrôle e rápida resposta com a variação da carga, e
independe do tipo de superaquecedor, seja de radiação, de convecção ou
misto.
Variações nos detalhes construtivos de superaquecedores são
diversas, e se referem ao número de passes de vapor, tipo de suporte do
equipamento dentro
da caldeira, uso
de superfícies
aletadas na zona
de convecção, etc.
A figura 19 mostra
detalhe de um
superaquecedor de
radiação.
Figura 17 - Temperatura de saída de
superaquecedores em função da carga
da caldeira.
Figura 18 - Esquema construtivo de
dessuperaquecedor.
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78
4.2 - Economizadores
Os economizadores se destinam
a aquecer a água de alimentação
antes de ser introduzida no
interior da caldeira. O pré
aquecimento é feito através da
troca de calor com os gases de
combustão saindo da caldeira.
O aproveitamento do calor
sensível dos gases de combustão
traz um aumento de eficiência
térmica do equipamento.
Economizadores são trocadores de
calor gás-líquido. Devido ao baixo
coeficiente de troca de calor por
convecção no lado dos gases,
geralmente os economizadores são
compostos por tubos aletados. Em
relação á sua instalação, devem
estar localizados após a última
superfície de convecção do gerador
de vapor. Podem ser fabricados
integralmente à caldeira,
ou podem ser adicionados na
parte exterior da mesma,
logo após a saída dos gases
(figuras 20 e 21).
Economizadores são
praticamente usados em
médias e grandes
instalações. O custo
adicional comparado com o
ganho de rendimento térmico
não viabiliza a utilização
em pequenas caldeiras, e
que geralmente se utilizam
de alimentação intermitente
de água, impossibilitando,
portanto, a operação em uso
contínuo e simultâneo dos fluxos de água e produtos de combustão.
Figura 20 - Elementos de economizadores de tubos aletados.
Figura 21 - Economizador de tubos aletados.
Figura 19 - Painéis
radiantes pendentes de
superaquecedor.
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4.3 - Pré-aquecedores
Os pré-aquecedores de ar elevam a temperatura do ar de combustão
antes de sua entrada nos queimadores ou fornalha, através da troca de
calor com os produtos de combustão saindo da caldeira. Além da vantagem
de aumento de rendimento térmico por
diminuição das perdas nos gases de exaustão,
o ar pré-aquecido melhora o funcionamento e
rendimento dos queimadores ou da fornalha.
Ar pré-aquecido aumenta a estabilidade de
chama, a temperatura interna da câmara de
combustão, aumentando portanto a troca de
calor por radiação, permitindo a utilização
de menor excesso de ar. O fato de se
utilizar também o calor sensível dos gases
de combustão não impede seu uso conjunto com
o economizador, o qual quando usado , deve
vir antes do pré-aquecedor, já que existem
limitações quanto a temperatura máxima do ar
de combustão conforme o tipo de queimador e
combustível utilizado.
Pré-aquecedores de ar são trocadores de
calor gás-gás, e os tipos mais utilizados
são:
- tubulares, (figura 22)
- regenerativos rotativos
(figura 23)e
- de placas.
Não é vantajoso a utilização de tubos aletados em pré-aquecedores
de ar, pois os coeficientes de película são da mesma ordem de grandeza
para os dois lados: ar e gases de combustão. Para o devido
aproveitamento de aletas, esta deveriam estar montadas nos dois lados do
Figura 22 - Préaquecedor
de ar, tubular
vertical.
Figura 23 - Pré-aquecedor de ar regenerativo
rotativo.
EM 722 - Geração, Distribuição e Utilização de Vapor Profº Waldir A. Bizzo
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fluxo, o que dificulta sua aplicação em tubos de secção circular. Alguns
trocadores de placas retas possuem aletas em ambos os lados, quando são
construídos em unidades modulares.
Os pré-aquecedores de ar regenerativos rotativos se utilizam do
armazenamento de calor sensível em elementos vazados de um rotor
rotativo, o qual girando a baixa rotação (2 a 4 rpm), alternam cada
elemento em contacto com os gases quentes saindo da caldeira e o ar frio
sendo aquecido. Sempre existe uma pequena mistura de ar e gases de
combustão, já que é difícil efetuar-se uma construção perfeitamente
estanque entre as correntes de fluxo que atravessam o rotor. Devido a
sua complexidade construtiva, tais pré-aquecedores sómente são viáveis em
grandes unidades de geração de vapor.
de energia desde os primórdios do desenvolvimento industrial. Inúmeras
razões colaboraram para a geração de energia através do vapor. A água é o
composto mais abundante da Terra e portanto de fácil obtenção e baixo
custo. Na forma de vapor tem alto conteúdo de energia por unidade de
massa e volume. As relações temperatura e pressão de saturação permitem
utilização como fonte de calor a temperaturas médias e de larga
utilização industrial com pressões de trabalho perfeitamente toleráveis
pela tecnologia disponível, já há muito tempo.
Grande parte da geração de energia elétrica do hemisfério norte
utiliza vapor de água como fluído de trabalho em ciclos termodinâmicos,
transformando a energia química de combustíveis fósseis ou nucleares em
energia mecânica, e em seguida, energia elétrica.
Toda indústria de processo químico tem vapor como principal fonte
de aquecimento: reatores químicos, trocadores de calor, evaporadores,
secadores e inúmeros processos e equipamentos térmicos. Mesmo outros
setores industriais, como metalúrgico, metal-mecânico, eletrônica, etc.,
podem-se utilizar de vapor como fonte de aquecimentos de diversos
processos.
Vapor saturado tem a grande vantagem de manter temperatura
constante durante a condensação a pressão constante. A pressão de
condensação do vapor saturado controla indiretamente a temperatura dos
processos. O controle de pressão, por ser um controle mecânico de ação
direta é conseguido muito mais fàcilmente que o controle direto de
temperatura.
A faixa de temperaturas até 170 ºC utiliza vapor saturado até 10
kgf/cm2 , cuja temperatura de saturação é 183 ºC. Nesta faixa está a
grande maioria de pequenos e médios consumidores de vapor. Maiores
temperaturas são possíveis a custa do aumento da pressão de saturação, o
que implica num maior custo de investimento devido a necessidade de
aumento da resistência mecânica e requisitos de fabricação e inspeção do
gerador de vapor. O limite da temperatura de vapor saturado é o ponto
crítico, a 374 ºC e 218 atmosferas. Não é vantajoso utilizar-se vapor
superaquecido para processos de aquecimento a temperaturas mais altas, já
que perderíamos a facilidade de controle de temperatura e diminuiríamos
drasticamente a disponibilidade de energia por unidade de massa ou volume
de vapor. Vapor superaquecido é utilizado e produzido para geração de
energia elétrica ou mecânica em ciclos termodinâmicos, e neste caso a
limitação de temperaturas de trabalho fica por conta dos materiais de
construção empregados. Em utilização industrial, poderíamos arbitrar uma
classificação de geradores de vapor em relação a pressão de trabalho:
- baixa pressão: até 10 kgf/cm2
- média pressão: de 11 a 40 kgf/cm2
- alta pressão: maior que 40 kgf/cm2
Repetindo que esta classificação é arbitrária, porém representativa
da faixa de utilização de vapor na indústria. Grandes caldeiras, as
quais são utilizadas tanto para geração própria de energia elétrica
quanto para processos de aquecimento, estão limitadas a pressões da ordem
de 100 kgf/cm2 . Existem caldeiras de maiores pressões, mas utilizadas
EM 722 - Geração, Distribuição e Utilização de Vapor Profº Waldir A. Bizzo
67
somente em grandes centrais termoelétricas ou grandes complexos
industriais, representando um número muito reduzido de unidades, em
comparação com as milhares de pequenas caldeiras em operação.
2 - Desenvolvimento das Caldeiras
As primeiras aplicações práticas
ou de caráter industrial de vapor
surgiram por volta do século 17. O
inglês Thomas Savery patenteou em 1698
um sistema de bombeamento de água
utilizando vapor como força motriz. Em
1711, Newcomen desenvolveu outro
equipamento com a mesma finalidade,
aproveitando idéias de Denis Papin, um
inventor francês. A caldeira de
Newcomen era apenas um reservatório
esférico, com aquecimento direto no
fundo, também conhecida como caldeira
de Haycock (figura 1).
James Watt modificou um pouco o
formato em 1769, desenhando a caldeira
Vagão ( figura 2), a precursora das
caldeiras utilizadas em locomotivas a
vapor. Apesar do grande
desenvolvimento que Watt trouxe a
utilização do vapor como força motriz,
não acrescentou muito ao projeto de
caldeiras.
Todos estes modelos provocaram
desastrosas explosões, devido a
utilização de fogo direto e ao grande
acúmulo de vapor no recipiente. A
ruptura do vaso causava grande
liberação de energia na forma de
expansão do vapor contido.
Nos finais do século 18 e início
do século 19 houveram os primeiros
desenvolvimentos da caldeira com tubos
de água. O modelo de John Stevens
(figura 3) movimentou um barco a vapor
no Rio Hudson. Stephen Wilcox, em
1856, projetou um gerador de vapor com
tubos inclinados, e da associação com
George Babcock tais caldeiras passaram
a ser produzidas, com grande sucesso
comercial (figura 4).
Em 1880, Alan Stirling
desenvolveu uma caldeira de tubos
curvados, cuja concepção básica é
ainda hoje utilizada nas grandes caldeiras de tubos de água (figura 5).
Figura 1 - Caldeira de
Haycock, 1720
Figura 2 - Caldeira Vagão,
de James Watt, 1769
EM 722 - Geração, Distribuição e Utilização de Vapor Profº Waldir A. Bizzo
68
Nesta época, tais
caldeiras já estavam
sendo utilizadas para
geração de energia
elétrica. A partir do
início deste século o
desenvolvimento técnico
dos geradores de vapor
se deu principalmente no
aumento das pressões e
temperaturas de
trabalho, e no
rendimento térmico, com
utilização dos mais
diversos combustíveis.
A aplicação a propulsão
marítima alavancou o desenvolvimento de equipamentos mais compactos e
eficientes.
3 - Tipos de Caldeiras
Atualmente, podemos
classificar as caldeiras em
dois tipos básicos:
- flamotubulares, onde
os gases de combustão
circulam por dentro de
tubos, vaporizando a água
que fica por fora dos
mesmos e
- aquatubulares, onde
os gases circulam por fora
dos tubos, e a vaporização
da água se dá dentro dos
mesmos.
3.1. Caldeiras flamotubulares:
Constituem-se da grande
maioria das caldeiras, utilizada
para pequenas capacidades de
produção de vapor ( da ordem de até
10 ton/h) e baixas pressões (até 10
bar), chegando algumas vezes a 15
ou 20 bar.
As caldeiras flamotubulares
horizontais constituem-se de um
vaso de pressão cilíndrico
horizontal, com dois tampos planos
(os espelhos) onde estão afixados
os tubos e a fornalha. Caldeiras
modernas tem diversos passes de
Figura 4 - Caldeira de tubos retos,Babcock
e Wilcox, 1877.
Figura 5 - Caldeira de tubos
curvados, Stirling, 1880.
Figura 3 - Caldeira de tubos de
água, 1803.
EM 722 - Geração, Distribuição e Utilização de Vapor Profº Waldir A. Bizzo
69
gases, sendo mais comum uma fornalha e dois passes de gases (figura .6).
A saída da fornalha é chamada câmara de reversão e pode ser revestida
completamente de refratários ou constituída de paredes metálicas
molhadas.
Câmara de reversão molhada produz melhores rendimentos térmicos
pela diminuição de perdas de calor ao ambiente, porém são mais
complicadas construtivamente e consequentemente mais caras.
As fornalhas das caldeiras flamotubulares devem ser dimensionadas
para que a combustão ocorra completamente no seu interior, para não haver
reversão de chama que vá atingir diretamente os espelhos, diminuindo a
vida útil da caldeira. A fornalha também se constitui de um corpo
cilíndrico e está completamente imersa em água. Pela sua própria
concepção, caldeiras flamotubulares modernas só queimam combustíveis
Figura 6 - Tipos de caldeiras flamotubulares
EM 722 - Geração, Distribuição e Utilização de Vapor Profº Waldir A. Bizzo
70
líquidos ou gasosos, devido a dificuldade de se instalar grelhas para
combustíveis sólidos. Algumas caldeiras flamotubulares de pequena
capacidade queimam combustíveis sólidos através de adaptação de grelhas
na fornalha, porém são limitadas ao tamanho necessário da área de grelha.
Para queima de combustíveis sólidos em caldeiras de pequena capacidade
utiliza-se as caldeiras mistas, que serão tratadas mais adiante.
Desde as primeiras caldeiras do século 17, até os modelos atuais,
as caldeiras flamotubulares passaram por sucessivos desenvolvimentos até
a atual concepção de uma fornalha e mais dois passes de gases de
combustão. A grande aceitação deste tipo para pequenas capacidades está
associada principalmente no seu baixo custo de construção, em comparação
com uma aquatubular de mesma capacidade. Por outro lado, o grande volume
de água que acondiciona limita, por questões de segurança, as pressões de
trabalho e a qualidade do vapor na condição de vapor saturado. A figura
7 mostra uma caldeira flamotubular moderna, com câmara de reversão
molhada e fornalha corrugada.
A água acumulada no corpo da caldeira pode funcionar como um pulmão
de vapor, respondendo a súbitas flutuações de demanda com pouca queda de
pressão da rede de vapor, sendo adequada portanto para aplicações onde o
consumo é variável.
A eficiência térmica destas caldeiras está na faixa de 80 a 90%,
sendo dificil se atingir maiores valores pela dificuldade de se
acrescentar equipamentos adicionais de recuperação de calor.
Figura 7 - Caldeira flamotubular com câmara de reversão
molhada e fornalha corrugada.
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3.2 - Caldeiras aquatubulares:
As caldeiras aquatubulares tem a produção de vapor dentro de tubos
que interligam 2 ou mais reservatórios cilíndricos horizontais, conforme
figura 8:
- o tubulão superior, onde se dá a separação da fase líquida e
do vapor, e
- o tubulão inferior, onde é feita a decantação e purga dos
sólidos em suspensão.
Os tubos podem ser retos ou curvados. As primeiras caldeiras
aquatubulares utilizavam tubos retos, solução hoje completamente
abandonada, apesar de algumas vantagens, como a facilidade de limpeza
interna dos tubos.
A caldeira de tubos curvados, interligando os balões, proporcionam
arranjo e projeto de câmaras de combustão completamente fechada por
paredes de água, com capacidades praticamente ilimitadas. Dada a maior
complexidade construtiva em relação às caldeiras flamotubulares, as
aquatubulares são preferidas somente para maiores capacidades de produção
de vapor e pressão, exatamente onde o custo de fabricação do outro tipo
começa a aumentar desproporcionadamente.
Em relação ao modo de transferência de calor no interior de
caldeira existem normalmente duas secções:
- a secção de radiação, onde a troca de calor se dá por
radiaçãodireta da chama aos tubos de água, os quais geralmentedelimitam a
câmara de combustão.
- a secção de
convecção, onde a troca de
calor se dá por convecção
forçada, dos gases quentes
que sairam da câmara de
combustão atravessando um
banco de tubos de água.
Nao há limite físico
para capacidades.
Encontram-se hoje
caldeiras que produzem até
750 t/h de vapor com
pressões até 3450 atm.
Figura 8 - Esquemas construtivos de
caldeiras aquatubulares, com circulação
natural.
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Figura 9 - Caldeira aquatubular compacta
Figura 10 - Caldeira aquatubular de grande porte.
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Para aplicação industrial, as capacidades variam da ordem de 15 a
150 t/h, com pressões até 90-100 bar.
As figuras 9 e 10 mostram uma caldeira aquatubular compacta e uma
caldeira de alta produção de vapor.
Circulação da água
A água pode circular por convecção natural pelos tubos, devido a
diferença de densidade entre o líquido e vapor formado pelo aquecimento
conforme esquematizado na figura 11. A figura 12 mostra um gráfico que
nos fornece a relação entre os pesos específicos do líquido e vapor
saturado em função da pressão de saturação. A força motriz da circulação
de água é exatamente a diferença de pêso específico.
Caldeiras de pressão
próxima ao ponto crítico
(218 atm), ou maior,
necessitam de circulação
assistida , devido a
pouca diferença entre as
densidades de líquido e
vapor. Um esquema da
circulação de caldeira
deste tipo esta mostrado
na figura 13.
Câmara de combustão.
As paredes de água
da câmara de combustão
podem ser totalmente
integrais, ou seja, cada
tubo tangente ao próximo
formando uma parede
impermeável aos gases, ou
ainda podem ser
construídas com tubos
interligados por aletas
de chapa soldadas. Há
ainda paredes de água com
tubos espaçados e parede
refratária. O calor que
não atinge diretamente os
tubos é reirradiado pelo
revestimento refratário
(figura 14).
Figura 11 - Esquema da circulação natural
da água da caldeira.
Figura 12 - Relação entre os pesos
específicos da água líquida e vapor saturado,
em função da pressão de saturação
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3.3 - Caldeiras mistas
A necessidade de utilização de combustíveis sólidos para caldeiras
de pequena capacidade fez surgir uma solução híbrida que são as caldeiras
mistas. Basicamente são caldeiras flamotubulares com uma antecâmara de
combustão com paredes revestidas de tubos de água. Na antecâmara se dá a
combustão de sólidos através
de grelhas de diversos tipos
possibilitando assim o espaço
necessário para os maiores
volumes da câmara de
combustão necessários a
combustão de sólidos,
principalmente em grandes
tamanhos, tais como lenha em
toras, cavacos, etc, além da
possibilidade de retirada de
cinzas por baixo das grelhas
(o cinzeiro). As caldeiras
mistas não reumem todas as
vantagens da aquatubular,
como a segurança, maior
eficiência térmica, etc.,
porém, é uma solução prática
e eficiente quando se tem
disponibilidade de
combustível sólido a baixo
custo. Tem ainda a
possibilidade de queimar
combustível líquido ou
gasoso, com a instalação de
queimadores apropriados.
O rendimento térmico destas caldeiras são menores que as
flamotubulares, devido a perda de calor pela antecâmara. Dificilmente as
paredes frontais e traseira são revestidas de tubos, devido a dificuldade
construtiva pelo pequeno tamanho da caldeira (figura 15).
Figura 15 - Caldeira flamotubular com ante-fornalha
de paredes de água.
Figura 14 - Tipos de paredes de água
para fornalhas de caldeiras
aquatubulares.
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3.4 - Caldeiras de recuperação de calor
Alguns processos de fabricação geram gases de processo ou de
combustão com temperatura alta o suficiente para se recuperar calor
destes. Como exemplo, gases de alto forno ou gases de processos de
fabricação de amônia,
ou produtos de
combustão de
incineradores e fornos
de alta temperatura
(figura 16). Neste
caso, a caldeira pode
ser tanto aquatubular
como flamotubular,
valendo ainda a
escolha pela
capacidade de produção
de vapor, optando-se
pela aquatubular para
maiores capacidades.
4 - Componentes principais de caldeiras
Caldeiras flamotubulares são geralmente equipamentos montados em
base única e poucos acessórios além dos necessários são acrescentados.
Grandes geradores de vapor podem possuir mais componentes além dos
que já foram citados.
Os principais componentes são: (figura 17)
a) cinzeiro: em caldeiras de combustíveis sólidos, é o local onde
se depositam as cinzas ou pequenos pedaços de combustível não queimado.
b) fornalha com grelha ou queimadores de óleo ou gás.
c) seção de irradiação: são as paredes da câmara de combustão
revestidas internamente por tubos de água.
d) seção de convecção: feixe de tubos de água, recebendo calor por
convecção forçada; pode ter um ou mais passagens de gases.
e) superaquecedor: trocador de calor que aquecendo o vapor saturado
transforma-o em vapor superaquecido.
f) economizador: trocador de calor que através do calor sensivel
dos gases de combustão saindo da caldeira aquecem a água de alimentação.
g) pré-aquecedor de ar: trocador de calor que aquece o ar de
combustão também trocando calor com os gases de exaustão da caldeira.
h) exaustor: faz a exaustão dos gases de combustão, fornecendo
energia para vencer as perdas de carga devido a circulação dos gases.
i) chaminé: lança os gases de combustão ao meio ambiente,
geralmente a uma altura suficiente para dispersão dos mesmos.
Figura 16 - Caldeira de recuperação de calor de
gases de processo
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A caldeira pode ainda ter equipamentos de limpeza dos gases, tais
como filtros, ciclones ou precipitadores eletrostáticos para captação de
material particulado ou ainda lavadores de gases para captação de gases
ácidos: SOx,NOx, etc...
4.1 - Superaquecedores:
Vapor saturado é extraído do tubulão superior e entra em um
trocador de calor instalado dentro da própria caldeira. Os
superaquecedores podem ser de natureza apenas convectiva, ou seja, recebe
calor somente por convecção térmica, ou de irradiação, e neste caso,
estão localizados dentro da própria câmara de combustão, ou na saída
desta, de maneira que receba calor por radiação da chama ou da grelha. A
temperatura de superaquecimento varia com a carga da caldeira, já que a
troca de calor não é acompanhada de mudança de fase como na vaporização.
A troca de calor dentro do superaquecedor é função da velocidade do vapor
dentro dos tubos e da velocidade dos gases na zona de convecção. A
figura 17 mostra o comportamento da temperatura de superaquecimento do
vapor conforme a carga da caldeira e o tipo de trocador. Equipamentos de
convecção aumentam a temperatura de superaquecimento com o aumento da
carga da caldeira, pois os coeficientes de troca de calor tendem a
aumentar com as maiores velocidades dos gases e também do vapor dentro
dos tubos. Superaquecedores de irradiação tem a temperatura de saída
diminuida com o aumento da produção de vapor. A irradiação de calor
varia pouco com a carga de produção de vapor . Em baixa carga a
velocidade do vapor é mais baixa e consequentemente os coeficientes de
transferência de calor também.
Para manter a temperatura de saída do superaquecedor constante,
projetaram-se unidades mistas com secções de radiação e convecção.
Figura 16 - Componentes principais de um
gerador de vapor.
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O controle fino da temperatura de superaquecimento pode ser feito
de diversas maneiras:
- contrôle da taxa de
radiação, através do contrôle da
posição angular dos queimadores de
óleo ou gás, direcionando a chama
radiante ao superaquecedor, ou
contrôle da capacidade de
combustão dos queimadores mais
próximos ao superaquecedor.
- desvio de gases passando
pelo superaquecedor, através de
uma válvula de desvio regulavel
automáticamente.
- utilização de
dessuperaquecedor (ou
atemperador), na saída do
superquecedor, o qual através da
injeção direta de água líquida
controla a temperatura de saída do
vapor superaquecido. Neste caso o superquecedor tem que ser
projetado para temperatura de saída maior que o necessário, a fim
de permitir margem de contrôle. A temperatura de saída do
atemperador é então controlada pela vazão de água injetada. Um
esquema do atemperador é mostrado na figura 18.
O atemperador é atualmente o método mais utilizado, pois
proporciona ótimo contrôle e rápida resposta com a variação da carga, e
independe do tipo de superaquecedor, seja de radiação, de convecção ou
misto.
Variações nos detalhes construtivos de superaquecedores são
diversas, e se referem ao número de passes de vapor, tipo de suporte do
equipamento dentro
da caldeira, uso
de superfícies
aletadas na zona
de convecção, etc.
A figura 19 mostra
detalhe de um
superaquecedor de
radiação.
Figura 17 - Temperatura de saída de
superaquecedores em função da carga
da caldeira.
Figura 18 - Esquema construtivo de
dessuperaquecedor.
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4.2 - Economizadores
Os economizadores se destinam
a aquecer a água de alimentação
antes de ser introduzida no
interior da caldeira. O pré
aquecimento é feito através da
troca de calor com os gases de
combustão saindo da caldeira.
O aproveitamento do calor
sensível dos gases de combustão
traz um aumento de eficiência
térmica do equipamento.
Economizadores são trocadores de
calor gás-líquido. Devido ao baixo
coeficiente de troca de calor por
convecção no lado dos gases,
geralmente os economizadores são
compostos por tubos aletados. Em
relação á sua instalação, devem
estar localizados após a última
superfície de convecção do gerador
de vapor. Podem ser fabricados
integralmente à caldeira,
ou podem ser adicionados na
parte exterior da mesma,
logo após a saída dos gases
(figuras 20 e 21).
Economizadores são
praticamente usados em
médias e grandes
instalações. O custo
adicional comparado com o
ganho de rendimento térmico
não viabiliza a utilização
em pequenas caldeiras, e
que geralmente se utilizam
de alimentação intermitente
de água, impossibilitando,
portanto, a operação em uso
contínuo e simultâneo dos fluxos de água e produtos de combustão.
Figura 20 - Elementos de economizadores de tubos aletados.
Figura 21 - Economizador de tubos aletados.
Figura 19 - Painéis
radiantes pendentes de
superaquecedor.
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4.3 - Pré-aquecedores
Os pré-aquecedores de ar elevam a temperatura do ar de combustão
antes de sua entrada nos queimadores ou fornalha, através da troca de
calor com os produtos de combustão saindo da caldeira. Além da vantagem
de aumento de rendimento térmico por
diminuição das perdas nos gases de exaustão,
o ar pré-aquecido melhora o funcionamento e
rendimento dos queimadores ou da fornalha.
Ar pré-aquecido aumenta a estabilidade de
chama, a temperatura interna da câmara de
combustão, aumentando portanto a troca de
calor por radiação, permitindo a utilização
de menor excesso de ar. O fato de se
utilizar também o calor sensível dos gases
de combustão não impede seu uso conjunto com
o economizador, o qual quando usado , deve
vir antes do pré-aquecedor, já que existem
limitações quanto a temperatura máxima do ar
de combustão conforme o tipo de queimador e
combustível utilizado.
Pré-aquecedores de ar são trocadores de
calor gás-gás, e os tipos mais utilizados
são:
- tubulares, (figura 22)
- regenerativos rotativos
(figura 23)e
- de placas.
Não é vantajoso a utilização de tubos aletados em pré-aquecedores
de ar, pois os coeficientes de película são da mesma ordem de grandeza
para os dois lados: ar e gases de combustão. Para o devido
aproveitamento de aletas, esta deveriam estar montadas nos dois lados do
Figura 22 - Préaquecedor
de ar, tubular
vertical.
Figura 23 - Pré-aquecedor de ar regenerativo
rotativo.
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fluxo, o que dificulta sua aplicação em tubos de secção circular. Alguns
trocadores de placas retas possuem aletas em ambos os lados, quando são
construídos em unidades modulares.
Os pré-aquecedores de ar regenerativos rotativos se utilizam do
armazenamento de calor sensível em elementos vazados de um rotor
rotativo, o qual girando a baixa rotação (2 a 4 rpm), alternam cada
elemento em contacto com os gases quentes saindo da caldeira e o ar frio
sendo aquecido. Sempre existe uma pequena mistura de ar e gases de
combustão, já que é difícil efetuar-se uma construção perfeitamente
estanque entre as correntes de fluxo que atravessam o rotor. Devido a
sua complexidade construtiva, tais pré-aquecedores sómente são viáveis em
grandes unidades de geração de vapor.
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